São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Contag leva moderação à CUT rural

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Imagine um bicho capaz de engolir outro maior do que ele. A Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), com 3.200 sindicatos, está há dois meses integrada à CUT (Central Única dos Trabalhadores), até então com 2.250 sindicatos.
O problema não é só de tamanho, nessa operação em que as duas entidades somam agora mais de um quarto dos estimados 19 mil sindicatos registrados no país.
Há 12 anos, a Contag fazia parte da CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), criada na época em oposição ao militantismo sindical com grife petista.
Por sua vez, a CUT, ao surgir em 1983, teve seu braço rural estruturado pela CPT (Comissão Pastoral da Terra, ligada à igreja) e pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Nesses dois movimentos, a Contag era vista como ``pelega"(subserviente aos interesses patronais) ou, na melhor das hipóteses, como ``despachante", já que desde sua fundação, em 1963, intermediou junto ao governo a solução para os conflitos do campo.
Em outras palavras ``a Contag tinha uma relação com o Estado muito pesada", resume o cutista e hoje vice-presidente da confederação, Avelino Ganzer.
``Mas o essencial é que tanto a CUT quanto nós concordamos no essencial, porque ninguém se comprometeu com o patronato, com o governo ou com o regime militar", diz Francisco Urbano Filho, 53, pela terceira vez presidente da Contag.
O casamento ocorreu a 28 de abril, por 1.405 a 158 votos, ao final do 6º Congresso da entidade.
Essa aparição de um novo sindicalismo rural de perfil moderado gera duas interpretações:
1 - Ou a CUT mudou, e não é mais quem procura mobilizar os trabalhadores rurais por meio do estímulo ao confronto.
2 - Ou é a Contag que não mais se alimenta com a cultura interna herdada, nos anos 60, da pressão para que os militares fizessem a reforma agrária, a partir do Estatuto da Terra (1965), lei que eles próprios, os militares, criaram.
É possível, também, que haja uma terceira hipótese, baseada na emergência de uma camada de camponeses avessa a qualquer forma de radicalismo.
No final de maio, ao lançar em Brasília o ``Grito da Terra Brasil 95", a Contag, em 2 dos 6 pontos de sua plataforma, visava diretamente os interesses dos pequenos proprietários rurais, que representam a metade dos 8 milhões de seus filiados.
Trata-se do crédito agrícola diferenciado para a economia familiar e de uma política energética que privilegie a eletrificação rural.
``Mais de 80% do arroz e do feijão são produzidos por pequenos agricultores", diz Hilário Gottiselig, tesoureiro da Contag.
A cabeça de um microempresário agrícola, reunido numa cooperativa, não é a mesma que a de um posseiro que ocupa à força uma terra de propriedade contestada.
A nova Contag tem como base de operações o Brasil rural no qual o capitalismo já se implantou.
O resto, agora, é disputa política de detalhes, como a eliminação dos antigos departamentos rurais da CUT em nove Estados, entre os quais São Paulo.

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