São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crianças `hipermóveis' sofrem no crescimento

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma pesquisa realizada com mais de mil crianças em idade escolar na cidade de São Paulo revelou que 36% delas têm a capacidade distender as articulações de forma exagerada -alteração conhecida como hipermobilidade articular.
Articulações são os pontos de encaixe entre os ossos. Joelhos, tornozelos, cotovelos e ombros são exemplos de locais onde esses encaixes acontecem.
A distensão exagerada pode causar problemas graves como dor em membros (braços e pernas), desgaste precoce das articulações e maior chance de luxação -deslocamento das estruturas que compõem esses ``encaixes".
A pesquisa faz parte de uma tese de mestrado defendida no departamento de pediatria da Escola Paulista de Medicina (EPM - UNIFESP) pela pediatra Luisa Helena Araújo Forléo.
As estatísticas mundiais apontam para uma frequência de hipermobilidade entre 15 e 34% para crianças na faixa dos 5 aos 17 anos. A pesquisa brasileira bateu no limite superior dessa variação. Os pesquisadores pretendem ainda ampliar o univero da pesquisa para averiguar se os dados correspondem à realidade.
Outro resultado do levantamento mostrou que a hipermobilidade é mais frequente em meninas e que quanto menor a criança, maior a chance de ela ser ``hipermóvel".
Maria Odete Esteves Hilário, chefe do setor de reumatologia pediátrica da EPM, explica que uma das hipóteses para a hipermobilidade é a de uma ``frouxidão" nos ligamentos (espécie de fitas que dão estabilidade e limitam os movimentos das articulações).
Alguns especialistas acreditam que pode haver uma alteração do colágeno -proteína que compõe esses ligamentos.
Com a idade, há uma tendência natural de esses ligamentos alcançarem maior tensão e reduzirem a mobilidade articular.
A hipermobilidade tem um caráter genético. Ela é mais frequente nas pessoas de raça negra.
As crianças ``hipermóveis" têm uma habilidade excepcional para atividades físicas como ginástica olímpica e balé. No entanto, se essas crianças passam a forçar muito suas articulações, elas correm risco de enfrentar desgastes precoces.
Segundo Maria Odete, há poucos anos, o balé de Moscou proibiu o ingresso de meninas com diagnóstico de hipermobilidade.
A hipermobilidade é uma das causas da ``dor de crescimento" (leia texto abaixo). Cerca de 10% dos ``hipermóveis" se queixam de dor em braços e pernas. São crianças que passam o dia brincando e que enfrentam, à noite, muita dor nos membros. Maria Odete diz que é fundamental que essas crianças tenham uma orientação especializada quanto as suas atividades físicas para poupar as articulações de um processo de desgaste.

Texto Anterior: Funai paga passagem de volta para a aldeia
Próximo Texto: Menina sente dores após realizar atividades físicas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.