São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Lateral esquerda é vital no clássico hoje

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Nos tempos em que o legendário Olimpicus chamava este clássico de o Choque-Rei, ninguém no Palmeiras estaria preocupado com quem jogaria pelas laterais do campo. Todos os olhos estariam voltados para os respectivos ataques.
Mas hoje, quando Palmeiras e São Paulo se enfrentam em um jogo de vida ou morte, os treinadores não dormem, pensando em resolver o problema da lateral esquerda, para ambos, setor vital.
O São Paulo, há muito, desde quando Nelsinho ocupava o posto, levava grande vantagem sobre os adversários exatamente por possuir jogadores adequados nessa posição. De Nelsinho a André, passando por Leonardo, todos eram canhotos, velozes, donos de chutes fortes e capazes de se equilibrarem muito bem entre as duas atribuições intrínsecas da posição: defender como beque e atacar como ponta.
O Palmeiras, que penou para resolver a questão, encontrou em Roberto Carlos a solução mais do que ideal. Tanto que a sua saída para a seleção reduziu o poder ofensivo da equipe mais ainda do que a perda de um goleador nato.
O fato é que não é fácil achar em meio à garotada um canhoto que una velocidade, resistência, habilidade e disposição para jogar por ali. Em geral, o canhoto é hábil no trato com a bola e disperso no contato com a disciplina do jogo. Por isso, sobressai-se e prefere o meio-campo, onde aparece mais, sob menor rigor.
Assim, raramente, um time que tenha um lateral em nível de seleção, como é o caso dos dois contendores de hoje, contará com um reserva à altura do titular.
Roberto Carlos está na seleção, e lá também estaria André, caso tivesse conseguido sair do estaleiro. Ao Palmeiras, restaria escalar Wágner, que ataca razoavelmente, mas defende mal. Já o tricolor teria melhor escolha em Ronaldo Luís, também na enfermaria. Mas poderia recorrer a Válber, que se revelou no Fluminense exatamente como lateral.
Acontece que Válber parece não estar disposto a voltar ao antigo posto. Consequentemente, Telê é forçado a arrumar-lhe um lugar no meio-campo, posto que não pode abrir mão da sua técnica apuradíssima, e recorrer novamente a Murilo, mais um problema do que solução. Isso porque Murilo é irreversivelmente destro e lento.
Por seu lado, o técnico Carlos Alberto cogita até transferir para esse posto o volante Flávio Conceição, que anda quebrando um galho na direita. Mas Flávio, que, além do mais é destro, prefere ficar pelo meio, ao lado de Mancuso e Amaral.
Resumindo: eu diria, parodiando o Januário de Oliveira, que, para ambos, a situação é literalmente sinistra.

A propósito: não disse que seria um equívoco dar o lugar do destro Juninho aos canhotos Souza e Leonardo? Mais do que o campo encharcado, vejo aí a razão de o Brasil ter penado para ganhar de 2 a 1 da Polônia, quinta à noite, no Recife. Até prova em contrário, fico com minha tese: Beto seria a mais lógica solução.

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