São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Guitarrista prefere vida à criatividade

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

No documentário realizado por Oliver James, uma série de depoimentos se alinham para mostrar as reações provocadas na feitura, e na qualidade, das obras de vários membros da comunidade artística inglesa sob Prozac.
Entre eles Bernard Summer, líder da banda New Order. No início da década passada, seu amigo e companheiro no grupo Joy Division, Ian Curtis, se suicidou.
No programa, Summer afirma que esse fato provocou uma necessidade de escrever apenas canções lúgubres. Algo que o perseguiu por anos. Até o Prozac.
Depois de um período de crise, no qual ele não conseguia mais compor, foi aconselhado a tomar o antidepressivo.
``Eu nunca mais acordei do lado errado da cama. Com Prozac, estou de bom humor todo o tempo".
Summer percebeu também uma mudança na qualidade de seu trabalho: ``Tenho dificuldade de escrever sobre as coisas interiores. Me projeto agora apenas no que está exterior a mim. Mas vamos colocar as coisas assim. Se você está com dor de cabeça, toma uma aspirina e não procura saber a razão da dor. A vida é mais importante que a criatividade".
Outro depoimento é de Alice Thomas Ellis, que começou um tratamento contra a depressão após a morte de seu marido. Ela diz que o Prozac atinge diretamente a intensidade dos sentimentos e sensações que, mais tarde, são usadas em seus livros.
Depois de usar a droga, ela diz ter a sensação de estar reciclando antigos textos, mais do que produzindo novos trabalhos.
Ainda sobre escritoras, uma das melhores amigas de Ellis, Shelley Weiner, afirma que o Prozac a ajudou a atravessar uma má fase, para que pudesse terminar seu novo livro. Com apenas um adendo: ``Não era o livro que eu queria escrever. Agora terei que reescrever tudo".
Seguindo a linha de depoimentos sobre os efeitos da droga, outro fenômeno cultural ligado ao Prozac é ``Prozac Nation", da americana Elizabeth Wurtzel.
Wurtzel, 28, foi crítica de música pop das revistas ``Rolling Stones" e ``The New Yorker", e sua primeira experiência com o Prozac foi na Universidade Harvard, onde um terapeuta a colocou em contato com o antidepressivo: ``Se não fosse pelo Prozac, eu certamente teria me matado", disse Wurtzel em uma entrevista para a revista britânica ``GQ".
Apesar de seu curioso apelo comercial, o livro vem sofrendo uma série de críticas tanto nos EUA quanto na Inglaterra, que apontam o quanto existe de bizarro no fato de um remédio se tornar objeto de cultura.
Um exemplo é Hugh Freeman, do jornal "Daily Telegraph": ``Como é estranho um antidepressivo ter se tornado tema de um best seller".
(MR)

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