São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995 |
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Megaempresário chinês vende ração
JAIME SPITZCOVSKY
Hoje, preside o maior grupo industrial privado da China e acumula um patrimônio avaliado em US$ 100 milhões. O grupo tem 10 mil empregados em 32 empresas, principalmente para produzir ração para porcos. Em 1978, o dirigente Deng Xiaoping decidiu abrir a China para o capitalismo, numa tentativa de melhorar a economia do país. No ano passado, o faturamento do grupo Hope (esperança, em inglês) atingiu US$ 460 milhões, menos de um terço das vendas dos supermercados Pão de Açúcar em 1993 (US$ 1,59 bilhões). Na China, o nascente setor privado responde por apenas 14,5% da produção industrial. Além de ração animal, o grupo Hope produz salsicha, equipamento para indústria de alimentos e já se aventurou no mercado imobiliário e de construção. O grupo está construindo um hotel cinco estrelas e um conjunto de casas de luxo. As construções são em Chengdu, sede da empresa e capital da província de Sichuan (sudoeste da China). Um dos homens mais ricos da China (ainda não há levantamentos precisos), Liu Yonghao capitaneia o empreendimento com a ajuda de seus três irmãos mais velhos. Os quatro filhos do casal Liu resolveram em 1982 deixar de ser técnicos em estatais para "pular no mar", expressão chinesa para a livre iniciativa. Os irmãos venderam suas bicicletas, relógios na época e conseguiram juntar US$ 120. "Achávamos que, com as reformas econômicas, os chineses consumiriam mais carne e, assim, decidimos produzir ração para porcos", disse Liu à Folha, no seu escritório em Chengdu. Em 1978, o consumo anual médio de carne de porco era de 7,7 quilos por pessoa e em 1994, saltou para 17,7 quilos. "Conhecemos muito bem a China. A agricultura e a criação de animais ainda dependem de técnicas antigas, o que representa um enorme mercado para modernizarmos e explorarmos. E sempre tivemos apoio do governo", disse. O governo comunista apóia de que maneira? "Sua maior ajuda é manter a política de porta aberta, ou seja, de reformas econômicas." Liu Yonghao, que nunca se filiou ao PC, cultiva relações com o poder. Na China, os "guanxis" (relacionamentos, em chinês) representam o atalho para escapar da burocracia comunista. Entre os amigos, o empresário chinês lista Li Ruihuan, um dos sete membros do poderoso Comitê Permanente do Politburo, o núcleo do poder no Partido Comunista. Li Ruihuan também preside a Conferência Política Consultiva do Povo Chinês, uma espécie de "conselho de sábios" convidados para assessorar o governo. Liu Yonghao, símbolo do novo capitalismo chinês, se tornou integrante da entidade em 1993. Ele diagnostica as principais dificuldades para um empresário chinês: falta de uma mentalidade adaptada à economia de mercado. ``Idéias como competição e busca do aumento de produtividade não estão enraizadas no país." Na produção de ração para porcos, o grupo Hope compete com companhias estatais e estrangeiras. "Sou um autodidata na área de administração", diz Liu. Ele diz não seguir nenhum modelo de administração, ocidental ou oriental. Questionado sobre quais livros de economia ou administração já leu, o empresário desconversa. "Não me lembro dos nomes". Com ou sem teoria, Liu Yonghao planeja expansão. O grupo Hope (Xiwang, em chinês) entra como um dos sócios no banco Minsheng, que vai abrir suas portas até o final deste ano. Próximo Texto: Milionário patrocina combate à pobreza Índice |
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