São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Líder espera filho com Suha em Paris

ULDERICO MUNZI
DO "CORRIERE DELLA SERA"

Suha, 31, a mulher de Arafat, 65, conta: "Eu estou feliz com um marido mais velho que eu. Há homens de trinta anos que já são velhos e com os quais nos entediamos. Arafat é um homem que teve muitas vidas e que a cada vez renasce como um jovenzinho".
A mulher de Arafat conta tudo no seu livro, que sai primeiro em Paris. Revela seus pensamentos mais íntimos, do amor à primeira vista que, em maio de 1989, surgiu com toda a força entre ela e Arafat em uma suíte do luxuoso Hotel Crillon de Paris, aos dias felizes na espera de um filho.
"O meu futuro, ligado à terra palestina, é agora aquele do meu filho. Foi concebido em Gaza e estou inquieta. O menino será símbolo da renovação? Qual será seu destino? Será como todas as outras crianças, dividirá as alegrias e as tristezas da Palestina. Escolhemos um nome. Será chamado Ammar, nome de guerra de Arafat, se for menino, Zahua, se for menina. Era o nome da mãe de Arafat e significa `altivez'."
O título do livro de Suha é "Enfant de Palestine" (Filho da Palestina). Gérard Sebag, grande estudioso dos problemas do Oriente Médio, ajudou-a a escrevê-lo enriquecendo o contexto histórico.
O menino ou a menina nascerá em breve. A gestação não é fácil, e Suha e Arafat escolheram um hospital em Paris. Não há hospitais de qualidade em Gaza. Em caso de problemas, deveriam recorrer a um hospital em Jerusalém, como queria a senhora Rabin. Mas a idéia horrorizava Suha.
A sua família, de religião greco-ortodoxa, vivia na Cisjordânia ocupada. Desde pequena, o nome de Arafat era uma lenda. A mãe de Suha, Raymonda, a alimentava.
"A Palestina é a minha única mulher", repetia Iasser. Depois apareceu Suha, bonita, loira, inteligente. Ela estava em Paris por motivos de estudo.
"Uma cidade onde se podia caminhar livremente, onde se podia ver os namorados andarem de mãos dadas e beijarem-se. Um forte contraste com o cenário da Palestina, a ponto de eu querer voltar para casa".
Mas, em 1989, Arafat foi convidado a ir a Paris. O escritório da OLP procurava palestinos que falassem francês. Suha foi recrutada.
"Arafat não tirava os olhos de mim -escreve-, queria que eu estivesse sempre ao seu lado, mesmo se não estava ocupado pela sua missão política.
Suha soube pela sua mãe que as primeiras palavras de Arafat, quando acordava no Crillon, eram: "Onde está Suha? Quero vê-la."
"Um dia, Arafat me olhou nos olhos e disse: `Suha, quero me casar com você. As minhas intenções são honestas e puras'. Fiquei desconcertada, mas já havia entre nós uma verdadeira cumplicidade."
Arafat, o homem que encarna a esperança dos palestinos, queria ser seu marido "Fiquei tonta. Respondi-lhe que estava bem. Depois, continuou: `O nosso casamento deve ficar em segredo. É uma condição imperativa. Sabe, há a Intifada e a repressão israelense, o nosso povo não poderia compreender'. Eu tinha dito `sim' sem pensar nas consequências. Devia continuar a desenvolver meu trabalho de assistente econômica de Arafat mesmo sendo sua mulher."
O casamento se deu no escritório de Arafat, diante de um imã (sacerdote muçulmano) e duas testemunhas. Era 17 de julho de 90. Ele tinha 61 anos, ela 26. Começaram dias difíceis para Suha.
Quando Arafat foi dado por morto num acidente aéreo no deserto, em abril de 92, Suha foi considerada pela OLP uma viúva para ser odiada. Com exceção de três amigos.
A última vingança da OLP contra Suha foi em 1993. Tratava-se de ir a Washington para o acordo com Peres e Rabin.
Escreve Suha: "Um ministro da OLP me disse que eu deveria renunciar à viagem, não queriam que eu fosse, haveria brigas e deserções. Respondi que a senhora Clinton havia me convidado. Fui para casa e encontrei Arafat consternado. Sabia da chantagem. Insistiu: `Susu, você vem assim mesmo'."

Tradução de Anastasia Campanerut

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