São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Filho de nazista vive com passado do pai

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Ricardo Eichmann, filho de Adolf Eichmann, um dos principais executores do extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, só agora está aprendendo a conviver com a participação que seu pai teve no Holocausto nazista.
"Penso muito mais nisso hoje do que antes. Antigamente eu tentava evitar pensar sobre o assunto", disse Eichmann-filho, 40, em entrevista ao jornal alemão "Suddeutsche Zeitung".
O simples pensamento sobre quem seu pai foi e o que ele fez era-lhe tão traumático, que Eichmann afirmou não poder lembrar as lições que teve sobre o Holocausto em sua escola, no sul da Alemanha.
"Eu devo ou ter matado as aulas ou ter sido mandado embora pelo professor, não me lembro mais do que pode ter acontecido", disse Eichmann, que recentemente se tornou professor na Universidade de Tübingen, onde leciona cultura e civilização orientais.
Seu pai, Adolf Eichmann, fugiu da Alemanha após a guerra para a Argentina, onde viveu sob um nome falso até ser sequestrado pelo Mossad, o serviço de informação israelense, em 1960.
No ano seguinte, em Israel, ele foi julgado e condenado à morte por enforcamento -a única sentença de morte determinada pelo sistema jurídico do Estado judeu em toda a sua história.
Adolf Eichmann foi enforcado em maio de 1962, sem que apresentasse sinais de remorso por sua atuação durante a guerra.
Adolf Eichman foi um dos principais executores da "solução final", que compreendeu a deportação de milhões de judeus de vários locais da Europa para os campos de extermínio nazistas.
Ricardo Eichmann, nascido na Argentina em 1955, mal lembra seu pai.
Nunca explicaram ao pequeno Eichmann por que seu pai desapareceu repentina e misteriosamente.
"Minha mãe mal falava sobre ele. Só vim a descobrir de maneira gradual." Após falar sobre o pai à sua esposa, ele planeja dar a seus dois filhos, com idade de seis e oito anos, a biografia do avô deles assim que forem maduros o suficiente para aceitá-la.
Ricardo Eichmann diz que não guarda sentimentos sobre seu pai e que está contente que o julgamento e a execução tenham acontecido há muito tempo.
"Fico feliz que, como pessoa racional, ele não esteja mais aqui. Não sei como eu iria reagir. Estou aliviado que ele tenha sido julgado e punido na época e não agora."

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