São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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`Temos mais pontos comuns que diferenças'

DO "LE MONDE"

Leia a seguir depoimentos que foram recolhidos após os encontros entre descendentes dos sobreviventes e autores do extermínio de judeus na Segunda Guerra:

``Foi espantoso! Todos nós ficamos totalmente absortos pelos relatos, submersos nas emoções, nos sentimentos contraditórios, também de compaixão. Não havia mais medo, nem diferenças; vínhamos dos dois lados do Holocausto, e de repente estávamos ali, formando um grupo só! Descobrimos que tínhamos mais pontos em comum do que diferenças. Era inacreditável!"
Samson Munn

``Contar aquilo que nos destrói por dentro e contar tudo diante deles, porque eles são os únicos que podem nos autorizar a chorar. Ninguém, a não ser eles, podia apaziguar o sentimento de culpa no qual nos afundávamos. Continuar a amar pais implicados em `aquilo tudo' não nos fazia cúmplices? Cúmplices a contragosto, mas cúmplices, logo também culpados? Que fazer, então? Arrastar conosco a vergonha que sentimos de nosso país; a raiva por nos terem legado `aquilo', a dor por termos nascido `ali', filhos daquelas pessoas? Uma filha de sobreviventes me deu a mão e disse que uma criança tem o direito de amar seus pais. Um alemão jamais teria podido me dizer a mesma coisa. Aquilo me salvou".
Nathalie F.

``Foi um choque enorme! Nunca na minha vida eu tinha chorado tanto. Aliás, todos nós chorávamos juntos. Até então o Holocausto tinha sido ``meu" problema, herdado de meus pais. Nunca me passara pela cabeça que também poderia ter destruído a vida dos filhos dos que o ordenaram!"
Julie Goschalk

``Quando eu tinha oito anos, escrevi em meu diário que um dia eu iria à Alemanha para dizer a todo o mundo lá o quanto haviam ferido meus pais. Seria minha revanche terrível. E eu a tive, em certo sentido. Vários alemães choraram ao ouvir minha história. Minha dor os consome e nos aproxima. Precisamos uns dos outros. Aliás, não somos nós os únicos no mundo a sentir sempre a necessidade de falar sobre o Holocausto?
Anna Smulowitz

"Enfrentar a repulsa deles foi uma experiência atroz. Mas eu precisava vê-los. Do mesmo modo como eu preciso falar em todos os lugares onde isso é possível. Os homens de minha geração se calam e escondem, totalmente bloqueados em relação àquele período, como eu também estive durante 40 anos. Fizemos filhos que criamos com dureza, imbuídos de valores autoritários e concentrados na reconstrução através do trabalho 15 horas por dia, para não sobrar tempo para pensar. Os homens da minha geração precisam despertar, falar com seus filhos e netos, para que se tente compreender, pelo menos!
Otto Duscheleit

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