São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Desaparecidos; Hormônio de crescimento; Preconceito; Racismo cordial; Fluminense

Desaparecidos
``A Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos não terá, ao que tudo indica, as suas reivindicações atendidas (Folha, 27/6 e 28/6). Isso demonstra que, dez anos após a instalação do regime civil no país, os fantasmas que habitam os porões dos quartéis continuam assombrando. É bom lembrar que destes mesmos quartéis saíram capacetes azuis da ONU, como o capitão Harley Alves, e os pracinhas da FEB que ajudaram a derrotar o nazi-fascismo em 1945. A corporação militar, em nome do respeito à sua história, deveria, de uma vez por todas, extirpar das próprias entranhas a mácula dos excessos cometidos após 1964. Quanto ao presidente da República, ele tem a obrigação de determinar a apuração e reconhecimento oficial e definitivo daquelas mortes. Apelar à crise chilena para não atender a comissão é, no mínimo, falta de coragem e vontade política. Afinal, FHC não é Eduardo Frei, nem o ministro do Exército é Pinochet."
Vladimir Sacchetta e Marcia Camargos (São Paulo, SP)

Hormônio de crescimento
``Serono Produtos Farmacêuticos Ltda., tomando conhecimento de reportagem da Folha de S. Paulo de 27/6, pág. 1-6, na qual é citada como fornecedora de hormônio de crescimento para a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, por meio de tomada de preços e em razão dos aspectos que foram enfocados pelo repórter que assina a matéria, vem expor a realidade dos fatos conforme segue. A apresentação de nossa proposta para participar da tomada de preços seguiu todas as exigências e especificações do edital publicado, acompanhada de todas as documentações pertinentes. O resultado do julgamento, decorrido o prazo legal para recurso ou contestação, foi publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo no dia 2/12/92, indicando-nos como vencedores legítimos por ação da comissão julgadora, a qual decidiu classificar e adjudicar nossa empresa como única cotação válida, já que outra empresa participante foi desclassificada por não apresentar documentações exigidas em alguns itens do edital. A homologação da adjudicação foi publicada no Diário Oficial de 3/12/92. No dia 7/12/92 foi assinado o contrato de fornecimento do medicamento entre as partes, no qual o número de ampolas foi determinado pela Secretaria da Saúde em 7.658 e não 9.650, como registrava o edital, por decisão única dessa entidade, por nós acatada e posteriormente ratificada por carta. O extrato do contrato foi publicado no Diário Oficial em 19/12/92. A conotação desse fato dada pela reportagem nos surpreendeu, pois sugere, com má-fé, que poderíamos ter sido beneficiados, quando na realidade apenas acatamos as decisões da Secretaria da Saúde. A Serono Produtos Farmacêuticos Ltda. é uma empresa do grupo suíço Ares-Serono, que se destaca mundialmente na pesquisa, desenvolvimento e comercialização de produtos farmacêuticos de alta tecnologia e eficácia, atuando no Brasil há mais de dez anos, mantendo sempre o caráter de lisura e responsabilidade em todas as atividades, e não poderia ficar omissa na presente situação. Colocamos à disposição da Folha e do repórter que assinou a matéria toda a documentação oficial do processo, assim como as respectivas publicações do Diário Oficial do Estado de São Paulo, para que a verdade prevaleça."
Giuseppe Tedeschi, gerente-geral da Serono Produtos Farmacêuticos Ltda. (Barueri, SP)

Resposta do jornalista Xico Sá - A reportagem aponta as irregularidades da Secretaria da Saúde, conforme documentos do TCE. Não sugere ``má-fé" da empresa, nem a aponta como autora das irregularidades.

Preconceito
``Marilene Felinto poderia aproveitar melhor seu talento. Não bastasse envergonhar-se de ser pernambucana, em seu último artigo na coluna `Adrenalina', além da costumeira metralhadora giratória, que desta vez certamente fará com que seja declarada `persona non grata' em Recife, gratuitamente cita meu nome, em companhia de minha companheira de trabalho Letícia Spiller, como exemplo de `loiras aguadas e sem talento', e, pior, como supostos instrumentos de um complô para fazer com que o homem pernambucano marginalize a mulher morena (morena e pernambucana, portanto ela, Marilene). Quanto ao meu talento, é direito da articulista achar que ele inexiste, apesar de ser certo que Marilene confunde talento com experiência. Eu mesma sou a primeira a reconhecer que ainda tenho muito, muito a aprender. Da minha capacidade de trabalho, que sei fazê-lo com dedicação e seriedade, que o público reconhece, disso estou certa. Não fosse assim e não me chamariam para a TV e para o teatro. Não é privilégio da articulista ter tido de trabalhar, ter ainda de trabalhar para sobreviver e eventualmente ter sucesso na vida. Em lugar de dar volta a seu próprio sucesso, dedica-se a tratar mal, invejosamente, outras pessoas bem-sucedidas. É uma pessoa amarga, que ao mesmo tempo inveja o loiro e repudia a beleza negra. Sua suposta independência intelectual na verdade não passa de grande confusão mental. Pratica ao mesmo tempo a discriminação e a contradiscriminação. O sujeito pode ser negro e sambista ou loiro e artista, negro e ator ou loiro e cantor, mas uma coisa é certa: será invejado e vilipendiado por Marilene Felinto. A propósito de inveja, seria bom informar a talentosa articulista de que o verbo invejar é transitivo direto, não indireto. Suponho que ela saiba, mas, ato falho, não podendo expor sua inveja aberta, diretamente, comete o erro."
Patrícia de Sabrit (São Paulo, SP)

``O artigo de Marilene Felinto de 25/6 peca pelo modo desrespeitoso com que a articulista se refere aos recifenses e à cidade do Recife. O texto de Marilene Felinto, de um primarismo maniqueísta impressionante, possui um ânimo catártico inconciliável com o jornalismo sério e isento que, espero, a Folha se propõe a fazer. Gostaria de acrescentar que, apesar de ser branca, classe média e bisneta de senhor de engenho, nunca militei pelo PFL e nem tampouco pela direita de um modo geral e não saio por aí chamando ninguém de `nego safado', `nego maloqueiro', `calunga', nem de `crioulo'. As generalizações são uma ameaça ao bom jornalismo e quase sempre denotam estreiteza de visão e são consequência do famigerado preconceito."
Mariana Pessoa de Melo Vila Nova (Recife, PE)

Racismo cordial
``Parabéns à Folha por ter feito publicar junto à sua pesquisa sobre racismo o parecer do professor Milton Santos, que indica a eterna circularidade de tais investigações `denúncia', sobre coisas já mais que denunciadas. De fato, ao observador atento não escapa que a repetitividade da abordagem monolítica do racismo só tem feito reforçá-lo. Um último reparo ao trabalho é a omissão do papel desempenhado pela televisão na propagação, modelagem e incentivo ao racismo. No mais, o intuito da empreitada é do melhor tipo, como em geral as iniciativas da Folha."
Jorge João Burunzuzian (São Paulo, SP)

Fluminense
``A Folha de 28/6 publica uma `foto-prova' -reprodução de uma imagem de televisão- segundo a qual o terceiro gol do Fluminense, na decisão do campeonato carioca, teria sido irregular. A foto mostra, para infelicidade do iluminado da redação que escreveu a reportagem, um momento em que Renato estava na mesma linha do goleiro Roger, enquanto Fabinho se encontrava um pouco atrás, situação absolutamente correta segundo as regras do futebol. Para se constatar isso, basta usar, sobre a foto, um secular instrumento chamado esquadro -por meio de seu uso, vê-se que Renato Gaúcho está rigorosamente na mesma linha do goleiro. A tal `foto-prova' e sua reportagem abrigam ainda dois problemas. A foto publicada não `foi congelada no instante do contato entre o pé de Aílton e a bola', mas dois frames depois, o que só a desmoraliza. A reportagem erra também ao dizer que o juiz Leo Feldman `deu o gol para o meia Aílton, autor do chute'. Sugiro uma consulta ao documento maior do jogo, que é a súmula, em que o juiz na verdade credita a autoria do gol a Renato. Foi uma vitória sem máculas!"
Sergio Sá Leitão (São Paulo, SP)

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