São Paulo, segunda-feira, 3 de julho de 1995
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Luz quer afastar policial corrupto

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O novo chefe da Polícia Civil do Rio, delegado Hélio Luz, 49, defende mudanças na lei que pune o usuário de drogas, quer o controle externo da Justiça e elogia seu ex-adversário político e atual chefe, o general Nilton Cerqueira, secretário estadual de Segurança.
Chamado de hippie por colegas, Luz teve que se adequar à função. Passou a vestir terno, cortou o cabelo, aparou a barba e iniciou na posse, sexta-feira, um serviço que qualifica como ``um sacrifício".
Queria se aposentar em 96. Pensou em recusar o cargo, mas Cerqueira fez uma ``convocação".
Aos 18 anos, ingressou no Banco do Brasil. Nove anos depois, foi aprovado em concurso e se tornou comissário da Polícia Civil.
Passou a delegado em 74. Se destacou no governo de Leonel Brizola (90-94) ao chefiar o Departamento Geral de Polícia da Baixada. Em sua gestão, baixou o número de homicídios na região, até então a mais violenta do Rio.
Saiu brigado do departamento. Foi afastado pelo vice-governador Nilo Batista, então secretário de Polícia Civil, por dizer que a cúpula policial tolerava a corrupção.
Luz diz simpatizar com o PT, mas não é filiado ao partido.

Folha - O sr. é bastante próximo do PT. Como é trabalhar com o general Cerqueira, de participação ativa na repressão à esquerda durante o regime militar?
Hélio Luz - Uma das coisas que me fez aceitar o cargo é que creio muito no general Cerqueira. Ele me mostrou que o governador tem muita preocupação com a segurança e que a questão pode afetar o conjunto da sociedade.
Folha - O sr. defende o controle externo do Judiciário?
Luz - Defendo o controle externo de tudo. Temos que prestar contas à sociedade.
Folha - O sr. defende mudanças na legislação que pune o usuário preso com pequena quantidade de droga?
Luz - Tem que ser revisto, discutido em situação mais ampla.
Folha - A polícia será tolerante com alguém preso com um cigarro de maconha?
Luz - A polícia não tem que ter tolerância com coisa nenhuma. Está na lei, tem que atuar.
Folha - O sr. acha que essa legislação tem que ser alterada?
Luz - Não discuto a lei, cumpro. Quem discute é a sociedade.
Folha - Mas o sr. disse que tem que ser revisto.
Luz - A nível pessoal. Como chefe de polícia, não tenho esse nível de entendimento. Não posso.
Folha - Parte da sociedade cobra ação da polícia. Qual será a sua orientação?
Luz - Não terá nada cinematográfico. Somos pagos para trabalhar, trabalhamos. Horário é para ser cumprido e nem se pode imaginar polícia no papel de ladrão.
Folha - O sr. hesitou em aceitar este cargo?
Luz - Não é questão de hesitar. É questão de analisar.
Folha - Foi lhe dada a alternativa do não?
Luz - Não.
Folha - O sr. pensava em ser chefe de polícia?
Luz - Nunca. Não faz a minha cabeça. O fato de estar aqui é uma consequência do sistema.
Folha - Qual a prioridade da Polícia Civil?
Luz - Temos que avaliar como está a Polícia Civil. A partir daí, começar a trabalhar.
Folha - O que deve mudar?
Luz - Temos idéia do que está errado, mas mudar não é imediato. Isso ficou torto uns 50 anos, não vai se modificar em 50 dias.
Folha - A corrupção é o maior problema?
Luz - Os corruptos sairão. Polícia incorruptível não existe. O que pode acabar é a segurança da impunidade. Isso acabou aqui.
Folha - A sociedade acredita na polícia?
Luz - Acho que não, mas ela mesma formou isso. Quando alguém bota o carro na calçada e dá um troco para o guarda, contribui para uma polícia desse nível. Então não pode cobrar muito.
Folha - O que o sr. acha da possível greve dos policiais civis?
Luz - Esse pessoal nunca fez greve. Agora, quando o mundo se modifica, descobriram a greve. Como sempre, estão no atraso.
Folha - Qual foi sua militância política?
Luz - Aos 14 anos entrei para a juventude trabalhista, do velho PTB (Partido Trabalhista Brasileiro). Fiz campanha pelo general Henrique Lott (candidato à Presidência em 1960, derrotado por Jânio Quadros). Fui assessor jurídico da Pastoral da Terra nos anos 70.
Folha - O sr. preparou o programa de segurança do candidato petista Jorge Bittar ao governo do Estado em 94?
Luz - Não. Houve divergências e não participei.
Folha - Que divergências?
Luz - De todo tipo. Já viu reunião do PT sem divergência?
Folha - O sr. vota no PT?
Luz - Em candidatos do PT e em candidatos de outros partidos.

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