São Paulo, sexta-feira, 7 de julho de 1995
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Interesse nacional

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Um ano de Real e Fernando Henrique, até pela forma com que se refere à oposição, de ``burra" para baixo, não quer mais saber de política interna.
O que importa agora, daí as viagens pelo mundo, daí as entrevistas à CNN, mais uma esta semana, é a política externa.
Ontem, fez cerimônia no Palácio do Planalto para condecorar o militar brasileiro feito refém na guerra da Bósnia -cerimônia em tudo copiada de outra, duas semanas atrás, na Casa Branca. Da Globo:
- O capitão brasileiro que virou refém na guerra da Bósnia é recebido como herói no Palácio do Planalto.
O presidente aproveitou para anunciar nova missão militar, agora para Angola, também em guerra, e avisou à televisão:
- Para lá enviaremos um contingente de cerca de 1.100 homens. Esta é uma realidade a que os brasileiros se vêm acostumando. E uma exigência das relações internacionais contemporâneas. Mas é também uma exigência do interesse nacional brasileiro, porque devemos, queremos e podemos participar mais intensamente do processo decisório internacional, que trará benefícios concretos ao país.
Para o presidente, o Brasil ``quer" enviar homens para a guerra -ainda que sob o nome de missões de paz. O Brasil ``quer" guerra.
Perguntado, o presidente é capaz de dizer que foi eleito para isso, como vem fazendo com qualquer decisão impopular, ultimamente.
Mas ``participar do processo decisório internacional" é o que ele, Fernando Henrique, quer. É o seu projeto de Brasil grande.
Um Brasil grande que ele vislumbrou, muito provavelmente, ainda ministro das Relações Exteriores. Daí as viagens, daí as entrevistas na CNN. Daí a carona no jogo de cena da Casa Branca, e declarações assim à televisão:
- O Brasil acompanhou com emoção e expectativa a situação de tensão e perigo vivida pelos oficiais brasileiros, no cumprimento de sua missão de observadores militares das Nações Unidas. O Brasil inteiro orgulha-se de sua coragem e heroísmo.
Com certeza. Mas o que importa, no caso e no discurso, é que vêm mais coragem e heroísmo por aí. Talvez também algumas mortes.

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