São Paulo, sexta-feira, 7 de julho de 1995
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Começa depoimento sobre chacina

DA SUCURSAL DO RIO

No primeiro dia de depoimentos à Justiça dos acusados pelas mortes de 21 pessoas na favela de Vigário Geral, ocorridas em 93, dois ex-policiais militares, que se dizem inocentes, apresentaram fitas cassetes gravadas na prisão.
As fitas registram conversas que seriam confissões de alguns dos acusado do crime. Nelas, os supostos confessos citam nomes de outros participantes da chacina.
Após investigações iniciais sobre a chacina, foram presos 33 acusados. Destes, 2 foram inocentados, 1 morreu e 1 fugiu.
Ontem, a juíza do 2º Tribunal do Júri, Maria Lúcia Capiberibe, ouviu os primeiros depoentes, os ex-policiais militares Hélio Vilário Guedes e Paulo Roberto Borges.
Eles afirmaram que gravaram as fitas com a ajudada de um dos supostos participantes da chacina, Alexandre Bicego Farinha, em troca de apoio para que ele conseguisse fugir.
Segundo os dois depoentes, Farinha participou do crime jogando uma granada dentro de um bar da favela de Vigário Geral, matando sete moradores.
Farinha é o único acusado que acabou fugindo da prisão, mas, nos depoimentos, não ficou claro se ele teria sido ajudado pelo esquema montado pelos presos.
Os dois ex-PMs afirmaram que a chacina foi praticada por 36 homens -a maioria policiais militares-, que invadiram a favela divididos em quatro grupos.
Segundo os depoimentos, dos 36 participantes da chacina, 10 estão entre os acusados já presos e 4 teriam sido mortos -a chamada ``queima de arquivo".
A partir das acusações do supostos inocentes, o Ministério Público pediu a prisão de preventiva dos outros 22 supostos participantes do crime. A prisão está decretada desde domingo passado.
As mortes teriam ocorrido depois de os moradores serem revistados por policiais, que usavam capuzes que cobriam todo o rosto.
Um dos policiais militares teria bebido um refrigerante no bar antes de a granada ser lançada.
Segundo os depoentes, a decisão de matar uma família de evangélicos foi tomada quando os 36 supostos participantes do crime estavam saindo da favela e um deles comentou das mortes no bar.
A casa dos evangélicos -onde hoje funciona o centro cultural Casa da Paz- ficava em frente ao bar. Leandro Marques da Costa, o "Miúdo, teria lembrado que havia entrado na casa sem capuz.
Para que ele não fosse reconhecido, oito pessoas da família acabaram mortas. Segundo os depoentes, duas crianças foram poupadas à última hora pelo policial José Fernandes Neto.
Segundo os depoentes, parte das armas usadas na chacina foi jogada na baía de Guanabara, do alto da ponte Rio-Niterói.

Vingança
A chacina de Vigário Geral ocorreu na noite de 29 de agosto de 1993. Foram mortos 20 moradores da favela e 1 motoqueiro que se encontrava em uma praça perto da entrada da favela, localizada na zona norte do Rio.
Os quatro seriam de um grupo de policiais que estariam extorquindo o traficante Flávio Negão (já morto), em troca de proteção para tráfico de drogas e armas em Vigário Geral. Os policiais teriam sido mortos a mando de Negão.

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