São Paulo, sexta-feira, 7 de julho de 1995
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Rio enterra 290 vítimas sem identificação

ABNOR GONDIM

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DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Arquidiocese do Rio de Janeiro denunciou, na semana passada, à Procuradoria Geral do Estado que 290 pessoas não identificadas foram mortas de forma violenta, de fevereiro a maio deste ano, sem merecerem apuração policial.
Os casos dos mortos anônimos no Rio foram comunicados também ao Ministério da Justiça pelo arcebispo do Rio, d. Eugênio Salles, como uma das maiores violações aos direitos humanos no país.
"Não sabemos se isso é uma guerra civil, ação de esquadrões da morte, mas é um absurdo que cidadãos sejam enterrados sem nome", disse a assessora do arcebispo, Maria Cristina Sá.
A denúncia da arquidiocese é baseada em relatórios mensais do Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto (RJ).
A Folha teve acesso aos relatórios de fevereiro e março -138 dos 178 cadáveres (mais de 70%) não tinham identificação.
No caso dos não identificados, o lugar destinado nos relatórios ao nome do cadáver é ocupado por identificações genéricas, como "homem preto", "homem pardo", "uma mulher branca".
Se o corpo não está completo, o nome do cadáver é substituído por expressões anatômicas, como "ossada humana", "tronco humano", "tronco carbonizado", "mão direita, olho esquerdo", ou "cabeça humana...antebraço".
A arquidiocese iniciou a investigação sobre os mortos anônimos ao ser informada sobre cadáveres enterrados nus de forma desumana no cemitério de indigentes do bairro de Santa Cruz, na periferia do Rio.
"É impossível que 290 pessoas mortas não tenham famílias", disse Maria Cristina Sá.
Informada sobre a denúncia, a secretária da Cidadania do Ministério da Justiça, Luiza Eluf, afirmou que os mortos anônimos no Rio não são os únicos do país.
Essa situação, segundo ela, é mais grave do que as violações aos direitos humanos no Brasil denunciadas por entidades e organismos internacionais.
Anteontem, por exemplo, o relatório anual da Anistia Internacional, organização de defesa dos direitos humanos, apontou que "centenas de pessoas foram executadas pela polícia e esquadrões da morte".

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