São Paulo, sexta-feira, 7 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil: candidato natural ao Grupo dos Sete

THEUNIS G. BARONTO MARINHO

Estou convicto de que o Brasil tem todas as chances para um crescimento econômico e social sólido e justo, se não forem cometidos grandes erros na fixação da política econômica. Apesar do alto preço que o brasileiro pagou com planos econômicos fracassados, levando toda a década de 80 para fazer a transição democrática, o país alcançou a estabilidade política, condição básica para o progresso duradouro de qualquer nação. Só que para crescer, o país precisa de uma reforma constitucional que corte este labirinto tributário, esburacado e nebuloso, por uma autopista moderna e direta; que abra o país para o capital estrangeiro, acabando com este falso charminho de donzela interiorana; que acabe com os monopólios estatais, verdadeiros elefantes paralíticos. Diante da perspectiva destas mudanças, o Brasil está acertando os passos para entrar na fase da prosperidade. Se isto não for feito, o grande mérito do Plano Real terá sido apenas o de ter transferido o doente de um pronto-socorro de periferia para um hospital de primeira classe, embora sem perspectivas de cura. Para se conviver com a globalização da economia imposta pela nova ordem mundial, o país não pode continuar colocando obstáculos aos investimentos de risco, impondo taxações desmesuradas e até dificultando o registro de patente. Isso impede a vinda de novos capitais estrangeiros produtivos, hoje avidamente disputados pelos países asiáticos, pelo Leste Europeu e por alguns vizinhos nossos, como o México, a Argentina e o Chile.
Nós precisamos e podemos crescer. Acho que se a meta do Brasil for entrar no Grupo dos Sete, o povo brasileiro vai trabalhar para chegar lá. Porque não basta simplesmente dizer que somos um país do futuro. Tem que existir, por trás de grandes projetos, um grande objetivo nacional. O Brasil vai deslanchar de vez, se agarrar a grande oportunidade e estabelecer regras estáveis para atrair novos investimentos. É interessante citar exemplos de políticas de desenvolvimento bem-sucedidas adotadas por diferentes nações do mundo. Como Cingapura, que, desde 65,
dá tratamento igual ao capital, independente de sua origem; a Coréia do Sul, que, a partir de 84, retirou as limitações à presença externa e criou regras fixas para avaliar o interesse nacional nos investimentos de risco; ou Taiwan, que chega até a incentivar o capital externo de risco, isentando-o de tributação por cinco anos. Aliás, atualmente o país preferido pelas multinacionais é a China, que ainda é comunista, mas é mais aberta ao capital estrangeiro que o Brasil.
Eu resumiria em dez os critérios básicos e macros que influem significativamente na decisão das empresas interessadas em investimentos de longo prazo num determinado território. O Brasil, com certeza, oferece os principais atrativos considerados pelos grupos empresariais internacionalizados, que hoje somam investimentos diretos de 37.512 matrizes, inclusive 53 brasileiras, com 170 mil unidades de produção espalhadas pelo mundo.
Nesta análise, o Brasil consegue 7 na média das notas. É muito boa, comparando-se com o ambiente geral de outros países emergentes. Nesta sabatina não somos reprovados -apenas ficamos em ``recuperação ou segunda época" nas matérias, cujos problemas são perfeitamente solucionáveis, os quais só precisam de encaminhamento correto.
A avaliação começa pelo item ``extensão territorial". E aí, logo de cara, o Brasil tem nota 10. No segundo item, ``população", também ganha 10. Num país onde um aumento do salário mínimo para R$ 100,00 desestrutura a capacidade produtiva da economia, o potencial latente para desenvolvimento está comprovado. No quesito ``geopolítica", o Brasil leva outro 10 pela posição de líder na América Latina. Só para comparar, o PIB do Chile, que chega a US$ 47 bilhões, representa 9% do PIB oficial brasileiro. Apenas o PIB do Estado de São Paulo já é comparável ao da Argentina. Aliás, o crescimento da economia brasileira no primeiro trimestre deste ano impressiona: 10,5% de aumento no PIB geral e 13,2% no PIB industrial. Em ``recursos naturais", temos riquezas abundantemente suficientes para outro 10. Em ``unidade étnica e cultural", merece 8. A miscigenação de raças no Brasil é uma realidade inquestionável e é um grande trunfo para a unidade nacional. É um país sem movimentos separatistas e sem predominância de religiões extremistas. O brasileiro orgulha-se de sua nacionalidade. Em ``estabilidade política", seguramente conseguimos um 7. Já em infra-estrutura, a avaliação cai para 6, pela paralisação dos investimentos em obras nos sistemas de transportes, telecomunicações e energia. Mais grave é a estrutura social na saúde (nota 2) e educação (nota 3). Em saúde, o investimento público per capta do Brasil chega a ser tão baixo quanto ao da miserável Somália. Havendo prioridade política, será possível atingir, até a médio prazo, uma nota 7 nestes três últimos itens. Mas chegando nas ``leis econômicas", último item, o Brasil mostra seu ponto mais vulnerável e tira 4, pela instabilidade das regras (confundimos criatividade com improvisação), inibição da livre iniciativa (somos um grande cartório, tanto nas leis econômicas como na trabalhista) e excesso de tributação e burocracia, resultando, lamentavelmente, em elevada sonegação de impostos. Cada cidadão convive no seu cotidiano com a realidade da economia informal ou subterrânea, que é incentivada pela ganância das leis e incompetência administrativa, até mesmo primitiva, no sistema de arrecadação. Eu arriscaria a estimar que o PIB real brasileiro passa de US$ 800 bilhões. O que há é muita riqueza escondida e sonegada.
Concluindo, após ter conhecido mais de 50 países e vivido mais de oito anos no exterior, me sinto seguro para afirmar que nossos problemas adquirem uma conotação de gravidade, não por serem congênitos, mas pela falta de encaminhamento e soluções adequadas. Após as reformas constitucionais, não seria megalomania populista mobilizar a nação com projetos concretos que, uma vez concluídos, colocariam o Brasil na posição de candidato natural para fazer o Grupo dos Sete virar o Grupo dos Oito. Isto só será possível quando também a miséria absoluta -a meu ver, o grande motivo real para vergonha nacional- estiver definitivamente arquivada no passado deste país.

THEUNIS G.BARONTO MARINHO, 43, é diretor de Finanças e Administração da Bayer S/A. e membro do EBCE (Grupo de Empresas Brasileiras de Capital Estrangeiro).

Texto Anterior: No embalo; No retorno; Fritura explícita; Fonte de inspiração; Quebra do corporativismo; Novo diretor; Novos tempos; Casa esvaziada
Próximo Texto: Sebrae terá programa diário na televisão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.