São Paulo, sexta-feira, 7 de julho de 1995 |
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Fila para Rodin vira fenômeno cultural
JOÃO BATISTA NATALI
Esse surto de curiosidade do público paulistano por um autor de artes plásticas provoca uma perplexidade unânime, que não recebe nenhuma explicação definitiva. ``Ninguém sabe ao certo o que está acontecendo", diz Emanoel Araujo, diretor da Pinacoteca. Ele levanta como primeira hipótese o fato de Rodin ``ter apelo em relação ao corpo", que funciona socialmente num momento em que as pessoas talvez estejam interessadas em conhecer a si próprias sob esse ângulo. O fato é que até anteontem à noite haviam visitado as 86 esculturas, desenhos de esboços ou fotos cerca de 84 mil pessoas. A exposição, aberta desde o dia 8 de junho, deverá receber outras 40 mil pessoas até o próximo dia 13. As filas seriam menores caso as portas ficassem permanentemente escancaradas. Mas haveria dois inconvenientes: o prédio quase centenário poderia sofrer abalo em suas estruturas e o público, apinhado, perderia as condições para apreciar corretamente as obras. Com isso, a Pinacoteca permite o ingresso parcelado de grupos de no máximo 20 pessoas. A partir da última terça-feira, quando o fechamento foi prolongado das 20h para as 22h, são em média 300 os grupos por dia que vêem a exposição. Exausta porque ficou na fila por quatro horas na terça-feira e só conseguiu entrar no dia seguinte depois de seis horas e meia, Aline Ramos Agrico, 19, ficou encantada. Gostou mais das esculturas ``O Beijo" e ``O Pensador". Já na bica da entrada, Patrícia Cintra, 23, e seu namorado Márcio Thomé, 23, estavam excitados com a iminência do contato visual pelo qual esperaram seis horas. Não muito atrás deles, um grupo de 22 adolescentes de Araraquara (SP) estava ansioso para o desfecho de um programa iniciado por uma palestra na cidade de onde vieram e prosseguido com a projeção, no ônibus, de ``Camile Claudel" (88), de Bruno Nuytten. O filme traz Rodin como personagem, mas esteve longe de se tornar um sucesso de bilheteria. Já que o verdadeiro chamativo não foi o cinema, é provável que ele tenha sido a TV Globo, arrisca em seu diagnóstico Elmira Nogueira Batista, vice-presidente do MAM (Museu de Arte Moderna). E, de fato, personagens da novela ``A Próxima Vítima" gravaram cenas na exposição, quando ela se encontrava no Museu Nacional de Belas Artes, do Rio. Emanoel Araujo, da Pinacoteca, localiza como última exposição com amostragem exaustiva a retrospectiva de Pablo Picasso, organizada com a 2ª Bienal de São Paulo, em 53. Lá se vão 42 anos. O sucesso de Rodin, ele arrisca como prognóstico, poderá colocar o Brasil no circuito internacional de eventos do gênero. ``Há muita embaixada ou consulado melindrados com o sucesso dos franceses." Texto Anterior: Neil Young mostra que Pearl Jam é mais fã do que discípulo Próximo Texto: Escultor inspira espetáculo Índice |
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