São Paulo, sexta-feira, 7 de julho de 1995
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Fila para Rodin vira fenômeno cultural

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A extensão descomedida das filas que se formam diante da Pinacoteca do Estado para a exposição do escultor francês Auguste Rodin (1840-1917) transformou-se em bem mais que um incômodo para quem é obrigado a esperar por até sete horas. É também, e sobretudo, um fenômeno cultural.
Esse surto de curiosidade do público paulistano por um autor de artes plásticas provoca uma perplexidade unânime, que não recebe nenhuma explicação definitiva.
``Ninguém sabe ao certo o que está acontecendo", diz Emanoel Araujo, diretor da Pinacoteca.
Ele levanta como primeira hipótese o fato de Rodin ``ter apelo em relação ao corpo", que funciona socialmente num momento em que as pessoas talvez estejam interessadas em conhecer a si próprias sob esse ângulo.
O fato é que até anteontem à noite haviam visitado as 86 esculturas, desenhos de esboços ou fotos cerca de 84 mil pessoas. A exposição, aberta desde o dia 8 de junho, deverá receber outras 40 mil pessoas até o próximo dia 13.
As filas seriam menores caso as portas ficassem permanentemente escancaradas. Mas haveria dois inconvenientes: o prédio quase centenário poderia sofrer abalo em suas estruturas e o público, apinhado, perderia as condições para apreciar corretamente as obras.
Com isso, a Pinacoteca permite o ingresso parcelado de grupos de no máximo 20 pessoas. A partir da última terça-feira, quando o fechamento foi prolongado das 20h para as 22h, são em média 300 os grupos por dia que vêem a exposição.
Exausta porque ficou na fila por quatro horas na terça-feira e só conseguiu entrar no dia seguinte depois de seis horas e meia, Aline Ramos Agrico, 19, ficou encantada. Gostou mais das esculturas ``O Beijo" e ``O Pensador".
Já na bica da entrada, Patrícia Cintra, 23, e seu namorado Márcio Thomé, 23, estavam excitados com a iminência do contato visual pelo qual esperaram seis horas.
Não muito atrás deles, um grupo de 22 adolescentes de Araraquara (SP) estava ansioso para o desfecho de um programa iniciado por uma palestra na cidade de onde vieram e prosseguido com a projeção, no ônibus, de ``Camile Claudel" (88), de Bruno Nuytten.
O filme traz Rodin como personagem, mas esteve longe de se tornar um sucesso de bilheteria.
Já que o verdadeiro chamativo não foi o cinema, é provável que ele tenha sido a TV Globo, arrisca em seu diagnóstico Elmira Nogueira Batista, vice-presidente do MAM (Museu de Arte Moderna).
E, de fato, personagens da novela ``A Próxima Vítima" gravaram cenas na exposição, quando ela se encontrava no Museu Nacional de Belas Artes, do Rio.
Emanoel Araujo, da Pinacoteca, localiza como última exposição com amostragem exaustiva a retrospectiva de Pablo Picasso, organizada com a 2ª Bienal de São Paulo, em 53. Lá se vão 42 anos.
O sucesso de Rodin, ele arrisca como prognóstico, poderá colocar o Brasil no circuito internacional de eventos do gênero. ``Há muita embaixada ou consulado melindrados com o sucesso dos franceses."

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