São Paulo, sexta-feira, 7 de julho de 1995
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Justiça do Chile decide enviar militar para a prisão

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Justiça chilena determinou ontem o envio do ex-chefe da polícia secreta do país durante o regime militar, general Manuel Contreras, para uma prisão especial em Punta Peuco, 40 km ao norte da capital Santiago.
A decisão foi tomada após exames constatarem que ele tem condições de ficar em uma cela especial, com cuidados médicos.
O general havia sido condenado a sete anos de cadeia pela autoria intelectual do assassinato do ex-chanceler socialista do país, Orlando Letelier, que ocorreu em Washington (EUA) em 1976.
Contreras teve sua sentença decretada em 30 de maio. Depois, passou duas semanas recusando-se a se entregar, alegando não ser responsável pela morte do ex-chanceler.
Letelier fazia parte do governo socialista de Salvador Allende, derrubado em 1973 por militares liderados por Augusto Pinochet. No exílio, ele combatia o regime militar em seu país até ser morto, juntamente com um assessor norte-americano.
A 13 de junho ele foi internado em um hospital da Marinha do Chile em Talcahuano, 532 km ao sul de Santiago. Os médicos militares alegaram que ele sofria de uma hérnia e suspeita de câncer, o que impossibilitaria sua prisão.
O fato gerou uma crise institucional no Chile, que deixou o regime militar em 1990. O próprio ex-ditador se pronunciou contrário à prisão do antigo colega, agravando a situação.
Em 20 de junho, a prisão do outro acusado pela morte de Letelier, o brigadeiro do Exército Pedro Espinoza, aliviou a crise. Espinoza, que era subordinado de Contreras, havia sido condenado a seis anos de cadeia pela morte de Letelier.
Enquanto Contreras permanecia internado, seus advogados entravam com recursos para relaxar a ordem de prisão do general. A Corte Suprema do Chile analisou 14 pedidos para soltar o militar, mas nenhum foi aceito.
Desde sua internação, o general Contreras fez cinco exames fora do hospital militar de Talcahuano. A oposição chilena acusou os militares de estarem dando cobertura ao general para evitar sua prisão.
Durante Contreras, 66, voltou a ser examinado anteontem à tarde. Ontem, a junta médica que avaliou o estado de seu fígado por meio de uma ressonância magnética (espécie de raio X detalhado) declarou que ele não tem câncer.
"O general tem plenas condições de ir para uma cela em regime especial para começar a cumprir sua pena", afirmou o chefe da polícia judiciária chilena, responsável pelas execuções das penas no país, Claudio Martínez.
Segundo ele, a ida do general para a cadeia vai ocorrer até a noite de hoje. Até as 23h30 de ontem (horário de Brasília), ele não havia sido levado para Punta Peuco.
No começo da noite de ontem, cerca de 350 manifestantes fizeram um protesto em apoio aos militares na frente do quartel-general do Exército no Chile.

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