São Paulo, sábado, 8 de julho de 1995 |
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2pac aproxima o rap da tradição do blues
MARCEL PLASSE
2pac lembra um herói moderno do blues. Os intérpretes do blues primitivo eram pobres, beberrões, mulherengos. 2pac era mais ou menos assim (a parte ``pobre" ficara para trás), até uma groupie acusá-lo de tentativa de estupro. A figura pública de Tupac Amaru Shakur sempre foi violenta, como seus raps, postura que convinha aos negócios. Nosso herói nasceu na cadeia, filho de uma militante dos Panteras Negras, que foi solta quando o bebê tinha um mês. Ele idolatra a mãe na letra de ``Dear Mama". Nos últimos anos, 2pac enfrentou cinco julgamentos, incluindo um por troca de tiros com a polícia. Ficou preso só 14 dias. Dois dias antes de ser condenado a um ano e meio de prisão, ele foi emboscado na rua. Cinco tiros à queima-roupa não o impediram de entrar no tribunal para ouvir a sentença. O episódio é narrado, em tom noticioso, na abertura de ``Me Against the World". Um dos fundamentos do rap é ``keep it real" (mantenha real). Aqui, a realidade é mais forte que as ``beats". O disco, gravado antes do encarceramento, está impregnado pela perspectiva da morte e da cadeia. A visão da solitária, para evitar a ameaça dos presidiários, acabou com o orgulho do rapper. ``Me Against the World" reflete a solidão dos condenados. No lugar da fanfarronice da maioria dos discos de rap, soa triste. Soa real. É como blues. Excelente. Disco: Me Against the World Artista: 2pac Gravadora: Warner Preço: R$ 20,00 (o CD, em média) Texto Anterior: Solo de Natalie Merchant decepciona Próximo Texto: Hugh Grant vai se desculpar em entrevistas Índice |
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