São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Apoio de FHC leva nova VW para o Rio

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A opção da Volkswagen pela cidade de Resende (161 km ao sul do Rio) para instalar sua fábrica de caminhões e ônibus teve influência política. Pesou na decisão um apelo feito pelo presidente Fernando Henrique Cardoso à direção da empresa.
O anúncio oficial será feito amanhã à tarde, no Rio. Pela manhã, a direção da Volkswagen será recebida por FHC, em Brasília. A ida da empresa para o Rio era um compromisso eleitoral de FHC.
``O Rio é o farol do Brasil", dizia FHC, na campanha, prometendo ajudar a reerguer a economia local. Seu dedo político pesou bem mais do que a isenção fiscal de 75% de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) dada pelo governo do Rio.
Também teve peso importante o discreto lobby que o empresário Roberto Marinho, da Rede Globo, exerceu sobre o governo e a Volkswagen. A disputa pela fábrica foi uma guerra tucana, decidida por outro tucano: FHC.
Os governadores Marcello Alencar, do Rio, e Mário Covas, de São Paulo, ambos do PSDB, usaram quase todos os tipos de armas para ganhar a fábrica -um investimento de US$ 250 milhões e 40 mil caminhões/ano.
Quando notou que estava em desvantagem, São Paulo ofereceu um porto privado, na Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista), na Baixada Santista. O Rio ofereceu dois portos exclusivos: um no Rio, outro em Niterói.
Mas o lance mais ousado foi a isenção fiscal por cinco anos do ICMS oferecida pelo Rio. A direção da Volkswagen quis saber se o governo paulista cobriria a proposta. São Paulo desistiu e perdeu.
``Se nós tivéssemos oferecido 75% de isenção, o Rio ofereceria 80%. A disputa não tinha limites", diz Emerson Kapaz, negociador e secretário da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de São Paulo.
Ronaldo César Coelho, secretário de Indústria, Comércio e Turismo do Rio, diz que usou as mesmas armas que os paulistas sempre usaram. ``São Paulo sempre foi mestre em isenção fiscal. É bom não dar agora uma de vestal", diz.

Páscoa e Lexotan
A opção da Volkswagen foi precedida de lances curiosos. A maioria envolvendo afagos à empresa. Às 23hs da quinta-feira da Semana Santa, dia 13 de abril, o governador Marcello Alencar telefonou para a casa de Pierre-Alain De Smedt, presidente da Volkswagen do Brasil. ``Feliz Páscoa", disse, ao ser atendido.
No dia 15 de maio, Ronaldo César Coelho usou o telefone celular do seu carro para falar com o diretor industrial da empresa, José Azank, que estava na Alemanha. Eram 22h no Rio. Esqueceu que, na Alemanha, já eram 3h.
Em São Paulo, o cerco à montadora alemã envolveu Covas e o prefeito paulista, Paulo Maluf. Há 20 dias, Covas convidou a diretoria da Volkswagen para um almoço no Palácio dos Bandeirantes.
No dia 19 de junho, durante reunião dos países do Mercosul, em São Paulo, a direção da empresa voltou ao Bandeirantes. Maluf puxou Covas para um canto onde estavam os diretores da empresa.
``Você tem de dar isenção", afirmou o prefeito. ``Se o Rio está dando, temos de cobrir", declarou. Dias depois, Covas recebeu um telefonema do presidente da empresa. Ele dizia que a fábrica ficaria com São Paulo.
Mensagens desse tipo também chegaram aos negociadores do Rio. No dia seguinte ao encontro no Palácio dos Bandeirantes, dirigentes da Volkswagen visitaram o terreno oferecido para a instalação da fábrica, em Resende.
``Pode diminuir o Lexotan", disse Miguel Jorge, vice-presidente da Volkswagen, a Ronaldo César Coelho, quando deixava Resende. Lexotan é um remédio usado para combater ansiedade.
``Naquele momento, tive a certeza de que a fábrica era nossa", diz Coelho. Segundo ele, pesou na decisão o custo ``mais baixo" de produção do Rio, além do apoio da ``elite empresarial", entre os quais se inclui Roberto Marinho.

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