São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Fotógrafo documenta ciclos da Amazônia

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O fotógrafo Pedro Martinelli, 45, um dos mais premiados do fotojornalismo brasileiro, está empenhado em documentar com sua câmera um mundo em rápida transformação: o dos caboclos que vivem e trabalham na Amazônia. A Folha publicará com exclusividade as fotos da série.
As fotos que a Folha publica hoje fazem parte do ciclo da juta (fibra utilizada na produção de tecidos resistentes, como a estopa) e foram feitas em abril.
Segundo Martinelli, a produção de juta na Amazônia atravessa hoje uma crise motivada por dois fatores: a concorrência de outras fibras, como as produzidas com polietileno, e a baixa remuneração do trabalho dos produtores (R$ 0,37 o quilo de fibra).
``O caboclo planta a juta no seco, mas a colhe na época da cheia, dentro da água. Depois disso, coloca-a de molho por dez dias, período em que a água do rio sobe ainda mais, o que o obriga a mergulhar para recolher o feixe. Finalmente, num pau flutuante, ele começa a estirar a fibra que vai vender à fábrica", explica Martinelli.
O máximo que um trabalhador consegue produzir numa safra, segundo o fotógrafo, é uma tonelada, o que lhe rende R$ 370.
``Se ele arpoa um peixe de 50 kg, ganha por ele R$ 50", diz Martinelli, para mostrar o maior poder de atração da pesca, outro dos temas que abordará na série.
Mas a própria pesca artesanal -principal fonte de subsistência das populações ribeirinhas da Amazônia- está ameaçada pela pesca industrial predatória.
``Se não houver uma regulamentação, várias espécies de peixes serão extintas", afirma Martinelli.

Homem amazônico
O fotógrafo diz que não quer entrar em polêmicas ou analisar politicamente seus temas. ``Não sei se quem está certo são os ecologistas, os caboclos ou os empresários. O que eu quero saber é como esse cara que mora lá nasce, cresce, constrói sua casa."
Para Martinelli, ``o dia-a-dia do homem amazônico é uma história que a gente não tem contado; a gente conta a história do jacaré, do boto, mas desse homem, não".
As populações indígenas tampouco fazem parte deste trabalho do fotógrafo.
``Fiz muita foto de índio, e tem muita gente que fez nos últimos anos. Não sei se eu teria o que acrescentar ao tema."
Em seu projeto atual, para realizar expedições pelo rio Solimões e seus afluentes, Martinelli comprou um pequeno barco e contratou um mestre para pilotá-lo.
As fotos da juta, por exemplo, foram feitas na região do Supiá, braço do Solimões, a dez horas de barco de Manaus, rio acima.
Martinelli faz quase todo o seu trabalho em preto-e-branco, com

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