São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995 |
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Fotógrafo documenta ciclos da Amazônia
JOSÉ GERALDO COUTO
As fotos que a Folha publica hoje fazem parte do ciclo da juta (fibra utilizada na produção de tecidos resistentes, como a estopa) e foram feitas em abril. Segundo Martinelli, a produção de juta na Amazônia atravessa hoje uma crise motivada por dois fatores: a concorrência de outras fibras, como as produzidas com polietileno, e a baixa remuneração do trabalho dos produtores (R$ 0,37 o quilo de fibra). ``O caboclo planta a juta no seco, mas a colhe na época da cheia, dentro da água. Depois disso, coloca-a de molho por dez dias, período em que a água do rio sobe ainda mais, o que o obriga a mergulhar para recolher o feixe. Finalmente, num pau flutuante, ele começa a estirar a fibra que vai vender à fábrica", explica Martinelli. O máximo que um trabalhador consegue produzir numa safra, segundo o fotógrafo, é uma tonelada, o que lhe rende R$ 370. ``Se ele arpoa um peixe de 50 kg, ganha por ele R$ 50", diz Martinelli, para mostrar o maior poder de atração da pesca, outro dos temas que abordará na série. Mas a própria pesca artesanal -principal fonte de subsistência das populações ribeirinhas da Amazônia- está ameaçada pela pesca industrial predatória. ``Se não houver uma regulamentação, várias espécies de peixes serão extintas", afirma Martinelli. Homem amazônico O fotógrafo diz que não quer entrar em polêmicas ou analisar politicamente seus temas. ``Não sei se quem está certo são os ecologistas, os caboclos ou os empresários. O que eu quero saber é como esse cara que mora lá nasce, cresce, constrói sua casa." Para Martinelli, ``o dia-a-dia do homem amazônico é uma história que a gente não tem contado; a gente conta a história do jacaré, do boto, mas desse homem, não". As populações indígenas tampouco fazem parte deste trabalho do fotógrafo. ``Fiz muita foto de índio, e tem muita gente que fez nos últimos anos. Não sei se eu teria o que acrescentar ao tema." Em seu projeto atual, para realizar expedições pelo rio Solimões e seus afluentes, Martinelli comprou um pequeno barco e contratou um mestre para pilotá-lo. As fotos da juta, por exemplo, foram feitas na região do Supiá, braço do Solimões, a dez horas de barco de Manaus, rio acima. Martinelli faz quase todo o seu trabalho em preto-e-branco, com Texto Anterior: Inflação acima de 20% exige correção de salário Próximo Texto: Paixão por selva teve início em 70 Índice |
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