São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Inflação acima de 20% exige correção de salário

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

O fim da indexação salarial é eficiente para forçar a inflação para baixo, mas pode ser perigoso para os trabalhadores se a inflação estiver em torno de 20% ao ano.
Essa é a avaliação da experiência na Itália, disse à Folha Roberto Confalonieri, membro do Conselho Nacional da Economia e do Trabalho (Cnel, em italiano), órgão consultivo do governo do país.
A indexação na Itália se chamava ``scala mobile". Semestralmente, um ``gatilho" repunha nos salários a inflação do período.
Em 1992, a Itália acabou com essa indexação.

Folha - Por que a Itália decidiu por fim à ``scala mobile"?
Confalonieri - Porque ela definitivamente alimentava a inflação, através da reposição automática para os salários do custo de vida.
À época havia um forte pressão inflacionária. Governo, sindicatos e empresas chegaram à conclusão de que era importante conter a inflação e que era melhor abolir a ``scala mobile".
Na metade de 1992, quando o acordo foi fechado, a inflação estava em 8,5%. Começou então a cair e, dois anos depois, chegou ao mínimo histórico de 3,5%.
Folha - Houve oposição?
Confalonieri - Sim. À época os ex-comunistas do PDS foram contra. Um ano depois, eles passaram a defender a livre negociação.
Folha - A ``scala mobile" então foi um equívoco?
Confalonieri - Não. Ela foi importante num período de inflação alta, para assegurar a integridade do salário. O governo achou, porém, que a inflação era baixa o suficiente para permitir o fim da indexação.
Folha - Há uma inflação mínima para adotar a desindexação?
Confalonieri - Estudos da época indicam que é perigoso acabar com a indexação quando a inflação está acima de 15%. E muito perigoso quando ela está acima de 20%. Nesse caso, a inflação corrói rapidamente o salário.
Folha - O que significou para os sindicatos o fim da ``scala"?
Confalonieri - O fim da ``scala mobile" acabou com uma garantia de reposição de custo de vida, mas deu aos sindicatos poder de negociação. Eles recuperaram a sua função social.
O trabalhador não está sempre, necessariamente, interessado num aumento salarial. Ele pode renunciar a isso em troca da manutenção do nível de ocupação.
Folha - Como se negocia hoje?
Confalonieri - Há dois tipos de negociação, uma nacional e outra em cada empresa. A cada dois anos há uma negociação salarial. A cada quatro anos, uma negociação jurídico-normativa, sobre condições e contrato de trabalho.
Folha - Houve redução salarial com a desindexação?
Confalonieri - No começo, sim. Os sindicatos aceitaram essa contenção salarial. Mas o país atravessava uma forte recessão.
A redução do custo do trabalho e a desvalorização da lira italiana foram importantes para superar essa crise. As empresas italianas passaram a exportar como nunca.
Algumas categorias já recuperaram as perdas do período.

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