São Paulo, domingo, 16 de julho de 1995 |
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Autor afirma que não quer polêmica
ARMANDO ANTENORE
``Não estou atrás de polêmicas. Construí os Noronha com muito cuidado. Escolhi atores bonitos para interpretar os personagens e lhes recomendei que agissem em cena da maneira mais natural possível, como qualquer família de classe média." O escritor ressalta que a cúpula da Globo não interferiu na concepção do núcleo negro. ``Ninguém me pediu para desenvolver os Noronha sob este ou aquele ponto de vista. Resolvi não abordar a discriminação racial às claras simplesmente porque não saberia como fazê-lo com originalidade. Em assuntos tão delicados, ou você traz luz nova à discussão ou acaba caindo no vazio." Ao menos por enquanto, o enfoque da novela está agradando à maioria das organizações que lutam pelos direitos dos negros. ``Precisávamos de referências positivas na televisão", diz Antonio Carlos dos Santos Vovô, 43, presidente do bloco afro Ilê-Ayê, em Salvador. ``Os negros no Brasil não são apenas marginais. Também há os doutores, que merecem atenção da mídia." ``Quando criança, costumava me espelhar em Pelé e Simonal, que estavam em alta", recorda Renato Radical, 38, diretor do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), no Rio. ``Gostava de saber que nem só os brancos podiam se dar bem. Talvez os Noronha exerçam influência semelhante sobre os meninos negros de hoje." A antropóloga Solange Martins Couceiro de Lima, 46, professora da Universidade de São Paulo (USP), aponta outra virtude em ``A Próxima Vítima". ``A boa repercussão da novela está quebrando um velho tabu: o de que negro na televisão não dá ibope." A professora conta que, em 1970, escreveu uma tese de mestrado sobre o tema. ``Perguntei para diretores e autores de novelas por que apenas os brancos costumavam ter papel de destaque nas histórias. Muitos me responderam que era porque atores negros afugentavam a audiência." Nem todos, porém, vêem ``A Próxima Vítima" com entusiasmo. ``Os Noronha comportam-se como uma família de brancos. Não sofrem preconceitos nem têm identidade étnica. Decoram a casa à maneira européia. Usam roupas e penteados que nunca remetem à cultura africana", argumenta Fernando Conceição, 36, coordenador do Núcleo de Consciência Negra na USP. ``O sucesso da novela", prossegue, ``reforça o que sempre soubemos: para conseguir aceitação social, o negro precisa se negar como negro." Texto Anterior: Pesquisa detecta altos e baixos de novela Próximo Texto: Mila Moreira é alvo de perguntas preconceituosas Índice |
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