São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 1995
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Governo do DF emprega 50 sindicalistas

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Cerca de 50 militantes do movimento sindical do Distrito Federal ocupam cargos de confiança no governo de Cristovam Buarque (PT). Só no Sindicato dos Professores, dez diretores se licenciaram para participar do governo.
A maioria atua em área distinta da sua formação profissional. Professores, bancários e radialistas assumiram funções de administradores das cidades-satélites do DF. Outra parte ocupa cargos na sua área de atuação sindical.
Afonso Oliveira Almeida, ex-tesoureiro do Sindicato dos Bancários, é diretor de Administração do Banco de Brasília. Ele negocia com a categoria acordos salariais, reposição de perdas e participação nos lucros.
O presidente da Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital), Orlando Carriello, ex-dirigente do Sindicato dos Servidores públicos do DF, é outro que negocia aumentos salariais com a própria categoria.
Os 9.000 funcionários da Novacap entraram em greve em abril. Após cinco dias, Carriello, ele próprio funcionário da Novacap há 21 anos, conseguiu do governo um abono de três meses e a liberação de vale-alimentação. Acabou a greve.
Além dos ex-dirigentes que saíram diretamente dos sindicatos e entidades representativas de categorias, mais cinco secretários de governo já foram dirigentes sindicais no passado.
O governador Cristovam Buarque afirma que o elevado número de sindicalistas no seu governo ``não ajuda nem atrapalha", porque a maioria não trabalha na área de sua categoria.
Mesmo atuando em outra área, porém, alguns sindicalistas conseguem ajudar suas categorias. O administrador regional de Brasília, Walter Valente, o ``Peninha", ajudou a liberar pagamentos devidos a professores.
A Procuradoria da Fundação Educacional queria recorrer na Justiça contra o pagamento dos atrasados do Plano Bresser. ``Peninha" procurou a vice-governadora, Arlete Sampaio, ex-diretora do Sindicato dos Médicos, e avisou: ``Isso vai dar greve".
``O Cristovam poderia passar o problema para o governo federal. Mas tirou R$ 44 milhões dos cofres do governo do DF e pagou o que era devido aos professores. Evitamos o confronto", conta o administrador regional.
O administrador do assentamento habitacional de Riacho Fundo, Trajano Jardim, afirma que enfrentou problemas com a greve dos lixeiros. ``Uma paralisação durou 12 dias. Os sindicatos radicalizam mais. Sabem que não vai haver repressão".
Filiado ao PCB, exilado de 1966 a 1968, Jardim faz uma comparação: ``Na época do Jango (ex-presidente João Goulart) era a mesma coisa. Mas o governo tem de negociar com os sindicatos. É o Estado democrático".
O administrador do HRT (Hospital Regional de Taguatinga), Jefferson Bulhosa, ex-diretor do Sindicatão (Saúde), não vê problemas para o GDF, mas sim para o sindicalismo do Distrito Federal.
``Cerca de 90% dos principais líderes sindicais estão no governo do DF. Se os sindicatos não se preocuparem com a formação de novas lideranças, estão no sal", afirma Bulhosa.
Ele cita o exemplo da sua categoria: ``A greve dos médicos não aconteceu aqui no HRT. O sindicato perdeu força. Os seus líderes vieram para cargos de direção no governo".
Mas alguns ex-sindicalistas mantêm ligação com a sua categoria. Na eleição para a nova diretoria do Sindicato dos Bancários, o administrador da Samambaia, Jacques Oliveira Pena, fez boca-de-urna no Banco do Brasil.
``Participei nos dois dias de votação. Isso é normal. A minha militância política me trouxe até Samambaia. E a minha militância é na área sindical", disse Pena.

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