São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 1995
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FESTA EM BERLIM

Ravers organizam o maior festival tecno do mundo na Alemanha

SILVIA BITTENCOURT
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE BERLIM

Tum tum tum tum tum tum tum... Os desavisados tiveram uma surpresa ao chegar, na semana passada, ao centro de Berlim. A cidade sempre foi ponto de encontro para punks, revolucionários e alternativos. Mas uma manifestação tão barulhenta, reunindo tantos jovens enlouquecidos, os berlinenses nunca tinham visto.
Naquele sábado acontecia a ``Love Parade", a maior festa tecno do mundo. Mais de 200 mil jovens adeptos da tecno-music transformaram a Ku'damm, a mais tradicional avenida da cidade, numa imensa discoteca ao ar livre.
Segundo os jovens tecno -que se denominam ravers (pronuncia-se ``rêivers" e quer dizer desvairados)-, aquilo era uma manifestação. Contra a guerra na Bósnia, contra testes nucleares ou contra o racismo? Não. Simplesmente, pela pura diversão.
``O mundo não tem salvação. Então, vamos fazer uma boa festa", escreveu a revista alemã ``Jetzt" sobre a filosofia raver.
Para os mais velhos, a música que ouviam na Ku'damm -em um compasso de 150 batidas por minuto- era o mesmo que um soco, ou melhor, 150 socos por minuto no estômago.
Já para os ravers, essa música minimalista, que soa futurística, sem texto ou mensagem, é uma espécie de língua universal, um meio comum para chegar ao delírio. Um bando de loucos, dizem os conservadores.
Mas por trás dessa loucura já se estabeleceu uma cultura tecno, que só na Alemanha -segundo agências de marketing- conta com cerca de 2 milhões de adeptos.
Os ravers alemães -capitalistas assumidos- têm um estilo de vida que os faz desembolsar, por ano, o total de US$ 1,5 bilhão. Os gastos incluem roupas, discos, revistas especializadas, bebidas estimulantes e noitadas em discotecas.
A moda tecno permite toda combinação: desde o estilo punk com maria-chiquinha, até roupas esportivas de marca e modelos de grife, passando pela saia curta e justa com botas de cano longo.
Entre os discos tecnos mais vendidos, na Alemanha, estão ``Low Spirit", ``Motor Music" (Polygram) e ``Dance Pool" (Sony).
Mas, diferente dos outros tipos de música, como o rock -que tem sempre um compositor entre suas estrelas-, a tecno-music não destaca ninguém. No delírio da dança, todos são iguais, independente de idade, cor e religião.
Um pouco mais de destaque têm os disc-jóqueis (DJs), que ordenam os sons. Os DJs mais famosos, na Alemanha, são Marusha (uma punk de trancinhas com um girassol na cabeça), Westbam e Sven Vaeth. ``Não temos mensagem alguma", disse Sven Vaeth sobre a cultura tecno. ``Uma boa noitada já basta."

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