São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 1995
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Elastica quer fazer sucesso nos EUA, mas sem se esforçar muito

DA "SPIN"

Espreguiçando-se exageradamente, o baterista Justin Welch, faz uma cara de garoto preguiçoso e anuncia: ``Estou quebrado".
Annie Holland, uma baixista estóica e madura, mantém o ar desinteressado sobre o comentário e procura um cigarro.
Justine Frischmann, a vocalista e candidata a símbolo sexual, anuncia: ``Estou ficando surda. Vocês sabiam, não?". Ela pega um exemplar do ``USA Today" -diário que circula nos EUA.
Seu gesto é seguido por Donna Mathews, a guitarrista. O que Justine tem de boazuda, Donna tem de pequena e delicada.
``Melhor aposta para o estrelato" -é o título com que o jornal se refere à banda inglesa Elastica, que esteve em Austin, Texas, para uma série de shows.
``Meio cedo para estrelato, não é", diz Donna. O grupo que revive a cena new wave inglesa. São mais rápidas que Wire ou Stranglers, que faziam sucesso no final dos anos 70.
A idéia é fazer com os norte-americanos -que tiveram sua própria new wave, com Blondie, por exemplo, gostem da nova opção. Mas também a idéia é não fazer muito esforço para isso.
Apesar de a banda ter conseguido a fama de ``próxima sensação ou seja lá o que for do rock inglês", Elastica ainda não chegou perto das paradas norte-americanas.
Mas diferente de outros sucessos ingleses como Suede, Blur ou os megalomaníacos Oasis, Elastica não se comporta como se o mundo devesse um beijo em sua bochecha.
Esse jeito ``não-estou-nem-aí" já rendeu ao grupo alguma resistência e vários olhares desconfiados. As pessoas se sentem bem ouvindo Elastica. Eles parecem legais e tudo mais. Só que a fama trouxe a desconfiança junto com o público.
``O que pode ser tão bom em ser famoso?", pergunta Donna. ``Um milhão de coisas. Como conhecer outras pessoas famosas", responde Justine.
``Claro, claro. E descobrir que são umas chatas e não têm mais vida própria", retruca Donna.
``Ah, dá um tempo Donna", resmunga Justine.
A cantora respira fundo e continua. ``Encontrei Iggy Pop em Nova York. Perguntei para ele se era bom ser famoso. Ele disse que sim, era ótimo. Aí parou, pensou um pouco e falou: `Claro, depende do motivo pelo qual se é famoso'. "
Donna pára por dois minutos e continua. ``Acho que seria horrível fazer uma música de merda e vender milhões de discos e ser famosos por isso. Mas se gosta do que faz e fica famoso por isso, deve ser legal."
A Elastica teve seu choque de frente com a fama, que trouxe junto uma série de impertinências com ela.
Afetou principalmente Justine. Todo mundo ficou sabendo que ela ajudou a fundar o Suede com então namorado Brett Anderson. Pegou meio mal. Sabe-se lá o porquê.
E que agora ela vive com Damon Albarn, do Blur. Todos também ficaram sabendo que ela cresceu em uma casa da classe média e não tem vergonha disso. Seu pai é uma arquiteto relativamente famoso.
``Chegaram a dizer que eu vivia em um palácio com mordomo e tudo. Damon e eu nem temos cortinas para as janelas", protesta.
A banda se rendeu à tentação de prestar tributos diretos demais a suas bandas inspiradoras. Justine gosta de agradecer e elogiar publicamente seus ídolos.
Para complicar ainda mais as coisas, Elastica recebeu o apoio, sem ter pedido, de Courtney Love, companheira de gravadora. Love afirmou que a imprensa inglesa implicava com Elastica por razões anti-semitas (contra os judeus).
``Ela adora suas teorias conspiratórias. Pessoalmente, nunca senti anti-semitismo na Inglaterra. É só que não há o costume de vivenciar a cultura judaica na Inglaterra. Por isso, gosto de excursões nos EUA. A cultura judaica está muito mais ligada ao dia-a-dia", diz Justine.
Mas o grande crime de Elastica é que, diferente de outras bandas alternativas, Elastica gosta de si, no palco e fora dele.
O show de Austin, que reviveu a new wave, fez com o público fizesse pogo (jeito violento de dançar, muito praticado por punks e new wavers em geral). Elastica não faz você se sentir mal, sentindo-se bem. O que é o melhor estilo new wave.

A coluna "Ondas Curtas" deixa de ser publicada nesta semana. Ela volta normalmente na próxima edição.

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