São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ponte aérea Brasil-Brasília

LUÍS NASSIF

Para as companhias aéreas, é uma festa. Para o país, uma lástima. Mas a linha aérea mais frequentada, hoje em dia, voltou a ser a ponte Brasil-Brasília.
Depois da fase autocrática do ``milagre", dos sucessivos planos fracassados do governo Sarney, da abertura econômica de Collor, quando se pensava que o país havia conquistado a maioridade econômica e que cessariam as intervenções arbitrárias na economia, há uma completa volta ao passado.
Os lobbies voltam a frequentar os gabinetes oficiais, há um retorno às cerimônias de beija-mão de ministros e o destino de empresas, setores e Estados voltou a depender da vontade individual das autoridades. É uma absurda volta ao passado, da parte de um governo que se propôs a ser o aríete da modernidade.
Em países politicamente maduros, só se aceitam intervenções bruscas na economia, mudanças imprevistas nas regras do jogo, ou decisões sobre recursos federais embasadas em razões nacionais extremamente sólidas e transparentes. Porque cada mudança no ambiente econômico significa premiar ou penalizar setores.
No entanto, a pretexto de restaurar o equilíbrio comercial -destruído por um política cambial igualmente arbitrária- a área econômica passou a legislar a seu talante sobre cotas e alíquotas de importação.
No plano comercial, as autoridades econômicas detêm poder absoluto de vida e de morte sobre qualquer setor da economia exposto à competição externa. E exercem esse poder arbitrariamente.
Como explicar que se instituam alíquotas de importação de 70% para automóveis prontos e de 2% para autopeças? Qual a justificativa para que se isentem de impostos de importação medidores de energia residencial apenas 30 dias antes da Eletrobrás abrir a maior concorrência dos últimos anos?
Como se explica que as cotas de importações de tecidos sejam instituídas de tal maneira que protejam indústrias paulistas, deixando ao relento as mineiras?
Em relação aos preços, embora não disponha de nenhum poder formal para punir aumentos, todo reajuste tem que ser negociado com o secretário de Acompanhamento de Preços, José Mílton Dallari, que estipula o que o governo considera razoável ou não.
O mesmo arbítrio volta a ser utilizado no BNDES. Qual o critério que leva o ministro A ou B a anunciar que o banco vai emprestar mais dinheiro para o Estado C ou o setor D?
Por mais que os condutores da economia sejam pessoas criteriosas, não há imagem pública que resista a tanta dose de arbítrio.

Fator Microsoft
Produtores brasileiros de software começam a ser varridos do mercado por uma violenta política de ``dumping" praticada pelo gigante Microsoft. Já há evidências em concorrências recentes nas áreas de editores de textos e sistemas de rede.
É hora do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) repetir as investigações de sua congênere americana, em relação às práticas da companhia.

Texto Anterior: Negligência quebrou Barings, diz relatório
Próximo Texto: Importador tem estoque para seis meses
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.