São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 1995
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Costner insiste em que `Waterworld' é bom

ANA MARIA BAHIANA

A menos de duas semanas da estréia de ``Waterworld" nos Estados Unidos, o clima é de tensão para Kevin Costner, astro e co-produtor do filme, e os executivos da Universal Pictures.
Em jogo, todos sabem, está a sorte do projeto mais custoso da história do cinema, um filme que, à força de uma sucessão assombrosa de incompetências, erros e desastres naturais e pessoais, vai para as telas (no dia 28, nos EUA; em setembro, no Brasil) com um custo recorde estimado entre 180 e 200 milhões de dólares.
Todos sabem que, mesmo que ``Waterworld" seja um sucesso estrondoso -hipótese pouco provável- o investimento não será recuperado.
Nem mesmo depois que o antigo dono da Universal, a empresa japonesa de eletrônica Matsushita, assumiu os primeiros 100 milhões de dólares do filme como prejuízo.
Em jogo, contudo, há muito mais que dinheiro: na linha de fogo estão as cabeças dos executivos que apoiaram o projeto e fizeram vista grossa dos estouros sucessivos de prazo e orçamento -isso, justo num momento de mudança da guarda no estúdio.
Em jogo também está o futuro do diretor de ``Waterworld", Kevin Reynolds, um ex-amigo de Costner, que depois de vários ataques de nervos largou sua criatura, incompleta, na montagem.
Fora a carreira de Kevin Costner, bruxoleante depois de três filmes comercialmente mal sucedidos (``Um Mundo Perfeito", ``Wyatt Earp" e ``The War").
Bronzeado, mais magro e definitivamente tenso, Kevin Costner falou à Folha em Los Angeles, dois dias depois da primeira exibição de ``Waterworld" à imprensa.

Folha - O que você achou do filme, agora que ele, afinal, está concluído?
Kevin Costner - Achei o filme muito bom. Achei que o filme acerta em muitas coisas e, mesmo no que podia ser melhor, ele é bom de um modo inesperado.
Só lamento que o filme tenha que sofrer o impacto frontal desse verdadeiro maremoto de publicidade negativa.
Não acho justo para com o filme nem para com o público. Ao contrário do que foi escrito, eu e meus amigos demos o melhor de nós para este projeto.
Folha - Deve ter havido alguma coisa muito especial neste projeto para fazer você levá-lo até o fim, apesar dos obstáculos.
Costner - Eu sempre quis experimentar fazer um filme de ação. Mas eu sabia que, para eu me envolver num projeto assim, teria que ser algo diferente.
Acho que os filmes de ação estão se tornado muito repetitivos. Com ``Waterworld", eu gostei da idéia central, gostei desse personagem, Mariner, que é um herói cinematográfico clássico mas, ao mesmo tempo, diferente.
Folha - Diante do que seu personagem faz no filme, você não teve receio de parecer antipático ao público?
Costner - Eu gosto de correr riscos. Como disse, se o Mariner era um herói clássico, precisávamos torná-lo diferente.
As diferenças são seu visual, sua aura de mistério, a dureza desse personagem, um ``sobrevivente profissional". O que me atraiu foi justamente esse aspecto rude dele, eu não conseguia me afastar disso.
Folha - Você poderia ter abandonado o filme ou assumido todas as rédeas, como diretor, quando o projeto começou a perder o rumo. Por que não fez nem uma coisa nem outra?
Costner - Em primeiro lugar, por puro senso de dever. Eu estava comprometido com o projeto. Havia uma equipe que estava trabalhando duro, que acreditava no trabalho, dependia de mim.
Não tinha como eu não trabalhar tanto quanto eles. Eles sabiam que era difícil para mim também. Não foi a melhor época da minha vida, mas também não me matou.
Por outro lado, nunca considerei a possibilidade de assumir a direção. Eu queria proteger Kevin (Reynolds), eu queria proteger o filme. Se eu achasse que podia dirigir o filme, eu teria dirigido. Mas eu nunca quis. Eu queria uma colaboração com outras pessoas, coisa que, no final, eu não consegui.

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