São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 1995
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Produção é desperdício de uma boa idéia

ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

Logo na primeira cena de ``Waterworld", Kevin Costner está urinando dentro de uma garrafa, no meio do oceano. Seguindo a teoria de que a primeira cena é a que estabelece o tom de um filme, a abertura de ``Waterworld" não é nada alvissareira.
Parece indicar ao pobre espectador que vêm aí muita água e um dos heróis mais antipáticos da história do cinema.
E o pior é que vêm mesmo.
A Terra, num futuro pós-hecatombe ecológica, foi submersa depois do descongelamento das calotas polares. Em mãos mais criativas e inteligentes, isso poderia ter rendido um épico tipo ``Blade Runner", com fartas ressonâncias míticas (Ulisses! Odisséia!) e bíblicas (dilúvio! Noé! Arca!).
Mas alguém (Costner? Reynolds? O estúdio?) resolveu que ``Waterworld" era somente uma espécie de versão de luxo de um filme B, e o resultado é variado.
Primeiro é chato: duas horas de horizonte, mais cenas de ação com os mesmos elementos.
É irritante, já que Mariner, o herói vivido por Costner, é grosseiro, anti-social, misógino e abusivo com todo mundo, inclusive e principalmente as duas mocinhas que deveria salvar, Jean Tripplehorn e a menina Tina Marjorino.
É também feio. Todos os personagens são pouco atraentes, precisando desesperadamente de um banho e o cenário mais empolgante, a colônia-atol, é destruída depois de 15 minutos de filme.
E finalmente é confuso (o fiapo de história deixa de fazer sentido depois de meia hora).
Para salvar ``Waterworld" seria preciso retomar a idéia central com um roteiro digno deste nome, usar o bom sendo para tirar o melhor da vasta tecnologia digital hoje à disposição dos cineastas, escolher um diretor de visão e talento (em vez do medíocre Kevin Reynolds) e escalar bons atores, não uma estrela em crise de meia idade.
A bem da verdade, Costner está em excelente forma física em ``Waterworld" e, entre um grunhido e outro, bem que sua a camisa. Se ele tivesse uma, aliás.

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