São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 1995
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Micros vão falar primeiro e pensar depois

Em 20 anos, o micro não será o companheiro capaz de pensar

BILL GATES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Pergunta - Em sua opinião, quando o computador se tornará tão inteligente como um ser humano? Às vezes, usando software, sinto que há alguma coisa lá atrás da tela. Algum tipo de consciência pode desenvolver-se a partir de todo esse processamento de informações?
Afinal, não é isso o que o cérebro faz? (Nicholas Riley, Universidade de Sussex, Grã-Bretanha, nichr cogs.susc.ac.uk)

Resposta - Não sei quando os computadores vão se tornar inteligentes. Muitas pessoas, e me incluo entre elas, são otimistas quanto à possibilidade de ensinar um computador a aprender como um ser humano aprende.
Mas, nos últimos 20 anos, o progresso nessa área foi extraordinariamente tímido. Os computadores de hoje são ótimos em jogos de xadrez. Mas micros e seres humanos não poderiam ser mais diferentes no que diz respeito às estratégias para tentar vencer.
No caso dos computadores, quaisquer resultados que se assemelhem a um aprendizado são obtidos por meio da enumeração bruta de diferentes possibilidades.
Isso não é inteligência. Nos próximos 20 anos, o computador continuará a ser uma ferramenta, não um companheiro capaz de pensar.
Algum dia, os computadores se tornarão verdadeiramente inteligentes, mas questiono se isso vai acontecer enquanto eu ainda estiver vivo. De outro lado, os computadores estão a ponto de conseguir falar e, quando fizerem isso, dá para imaginar que eles serão inteligentes.
Dentro de poucos anos, até mesmo computadores pessoais pequenos e acessíveis poderão ter personalidades e, possivelmente, idiossincrasias. Essas máquinas vão falar com voz humana bastante natural, se quisermos.
Vão se comportar como se compreendessem muitas de nossas ordens verbais. Tentarão ser úteis. Poderão até demonstrar simpatia diante de frustrações.
Dar aos computadores os sinais exteriores da inteligência vai torná-los mais fáceis de usar.
Mas isso não quer dizer que eles pensem de verdade, ainda.

Pergunta - Você lamenta não ter concluído a faculdade? (Brian Deagan, Uniontown, Ohio, deagan lmg.com)

Resposta - Deixei a Harvard para começar a Microsoft e não lamento isso. Mas eu gostava muito da faculdade e gostaria de ter tido tempo de terminá-la.
Quando você ouve histórias de sucesso de pessoas que deixaram os estudos a tentação é acreditar que a educação formal não é importante para os que têm cabeça para os negócios.
Mas, a menos que uma pessoa tenha uma idéia que é extremamente oportuna, e acredita que nunca mais terá outra tão boa, provavelmente é melhor terminar os estudos. Por uma razão: uma pessoa muito jovem raramente é levada a sério no mundo dos negócios. Para adolescentes, é difícil levantar dinheiro e contratar gente boa.
Mais importante ainda: a faculdade tem muito a ensinar. Além das atividades do curso, há muitas coisas valiosas a aprender fora da sala de aula durante aqueles anos.
Ter um diploma pode ser fundamental para se conseguir um bom emprego mais tarde.
Um exemplo: a Microsoft foi fundada por uma dupla que deixou a universidade, mas raramente contratamos para um cargo importante alguém que esteja interrompendo seus estudos.

Pergunta - Você escreveu que o micro ajuda a pequena empresa a competir com as grandes. Há vantagens para uma grande companhia? (joe majo.lab.komatsu.co.jp)

Resposta - Sim. Grandes empresas se beneficiam muito de ferramentas que facilitam a colaboração. O melhor exemplo é o mail eletrônico, que ajuda as pessoas a trabalhar juntas mesmo quando estão separadas.
Como eu apontei, uma desvantagem particular das pequenas empresas é o fato de que nelas um empregado precisa desempenhar vários tipos de tarefas. É o problema do faz-tudo, que o PC ajuda a resolver com uma variedade de programas diferentes.
Em comparação, uma desvantagem das grandes empresas é a necessidade de coordenação. Qualquer um que já tenha trabalhado para uma grande empresa sabe como são grandes os custos indiretos envolvidos na coordenação de atividades. Em uma grande empresa, talvez 50% dos esforços se concentrem em coordenação e não em atividades afins.
Parece desperdício mas, para fazer motores para jatos, você precisa de uma grande empresa. Precisa coordenar tudo isso.
Compramos metal suficiente? Testamos isso de verdade? Conseguimos aprovação do governo? Ei, será que alguém vai comprar essas coisas? Há reuniões e memorandos e custos indiretos em volume quase inacreditável.
O mail eletrônico (endereço eletrônico para envio e recebimento de mensagens), as videoconferências, a capacidade de armazenar dados em um lugar e de enviá-los a qualquer parte do mundo. Tudo isso são instrumentos por meio dos quais as grandes organizações podem coordenar atividades, enquanto cortam o número de reuniões que consomem tempo e energia. O incremento em produtividade pode ser espantoso.

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática, pelo correio -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644. A correspondência pode ser enviada a Bill Gates no endereço eletrônico askbill microsoft.com.

Tradução de LUCIA BOLDRINI

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