São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 1995
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O que importa é a exportação

ANTONIO DELFIM NETTO

O governo continua esperando um resultado positivo no balanço comercial para anunciar, com sua retórica irresistível, que ``viramos o jogo". É bem possível que tenhamos uma drástica redução do déficit comercial nos próximos meses, graças à diminuição do nível de atividade interna, à volta ao controle das importações por cotas e tarifas e, principalmente, pela violenta incerteza que se estabeleceu nos negócios de importação.
De uma coisa não há dúvida: não faltou talento à equipe econômica do governo para meter-se em situações ridículas (alegar desindustrialização no que se supõe será um mercado comum sem perceber que assim renegava a idéia), cômicas (brigar com a Argentina apenas para descobrir que as estatísticas estavam erradas) e confusas (faz que vai mas não vai nas tarifas e cotas, ameaça proibir importação financiada etc.).
Mas estará resolvido o problema se obtivermos o equilíbrio na conta de mercadorias? Longe disso. O que precisamos é um sinal claro de que vamos voltar a um superávit comercial mensal médio, da ordem de US$ 600 milhões a US$ 700 milhões.
Mas é claro que o superávit comercial não pode ser obtido apenas pelo controle das importações com tarifas, cotas, aumento da incerteza e, principalmente, pela manutenção da economia num baixo nível de atividade. É preciso obtê-lo, sim, mas também por uma vigorosa ampliação das exportações.
A equação é simples e clara: para financiar corretamente um déficit em conta corrente de US$ 10 bilhões é preciso que o país esteja crescendo. As produções industrial e agrícola devem crescer para oferecer ao capital estrangeiro boas oportunidades de investimentos diretos, com taxas de retorno superiores às taxas de juros internacionais. E o investimento público na infra-estrutura deve crescer com bons projetos financiados a longo prazo pelos organismos internacionais para gerar as externalidades necessárias aos investimentos privados. É claro que isso implica poupança positiva do governo (complementada pelo financiamento externo) e em taxas de juro reais civilizadas, capazes de estimular o investimento privado.
O crescimento da economia implica, por sua vez, o crescimento das importações. Alguns economistas com vícios do keynesianismo vulgar até agora não entenderam o significado do velho ``slogan": o que importa é a exportação. O objetivo principal das exportações não é aumentar a demanda global, é pagar as importações. A correlação tantas vezes lembrada (e estimada) entre taxa de crescimento do produto e taxa de crescimento das exportações é em boa parte espúria. Ela esconde a correlação verdadeira entre importações e crescimento. É a importação que produz estímulo à incorporação de novas tecnologias e aumenta a pressão competitiva interna, fazendo crescer a produtividade global da economia.
Para crescer rápida e eficientemente é preciso importar. E para pagar as importações é preciso exportar, coisa que a velha Cepal nunca entendeu. É por isso que sem um crescimento das exportações o processo de crescimento econômico (e de emprego e do atendimento às necessidades básicas da população) é abortado.
Como vamos conseguir isso com uma política cambial míope, com um déficit fiscal operacional caminhando para 1,5% do PIB (com investimento governamental praticamente nulo) e com uma taxa de juro real de 25%?

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