São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 1995
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O BNDES sem função

LUÍS NASSIF

Cena 1: o BNDS concede financiamento de US$ 100 milhões à Siderúrgica Villares para ampliação.
Cena 2: cerca de 20 pequenos empresários do setor de software, coordenados pelo Ministério de Ciência Tecnologia, tentam financiamentos de US$ 500 mil para cada empresa. Os valores são considerados irrisórios pelo banco.
Onde está o erro? Na data. Se fosse em 1960 ou 1970, a atuação do banco se justificaria. Havia a necessidade de criar grandes grupos nacionais e absoluta carência de poupança externa e interna que pudesse financiar sua expansão.
Hoje em dia, dada a abundância de capitais externos e internos disponíveis para grandes grupos e a ausência de políticas públicas de estímulo a novos setores, é uma contrafação do banco persistir nesse modelo.
Sem o financiamento do BNDS, a Villares seria obrigada a lançar ações. Seus projetos seriam analisados por investidores privados, que bancariam o risco da operação. Em contrapartida, a empresa seria obrigada a profissionalizar definitivamente sua gestão, transformando-se em moderna sociedade anônima.
Com a operação, o BNDS simplesmente está financiando o adiamento da profissionalização da empresa e de todas as outras que ainda recorrem a crédito para investimento. Pior: com dinheiro subsidiado do trabalhador, por meio de recursos do FAT remunerados pela TJLP.
A manutenção desse modelo só se justifica dentro da velha visão autárquica de preservar nas mãos do governo o poder de mediação dos recursos da economia. Não há lógica moderna na qual ela se enquadre.
O modelo vai ser atropelado pelas circunstâncias. A cada dia que passa mais instituições se preparam para intermediar recursos externos na economia. Os principais quadros do BNDS estão sendo contratados pelo setor privado.
O ruim da história é que, quando a opinião pública se der conta da inevitabilidade do processo, a privatização já terá virado pó, perdendo-se a grande oportunidade de se acelerar a implantação de um capitalismo social no país e de o governo utilizar recursos da privatização para pagar a dívida social.

Joio e trigo
Para separar o joio do trigo, o caso Banespa deve ser analisado em duas etapas. A primeira, a das operações de Antecipação de Receita Orçamentária (ARO), ainda no governo Quércia. Há circunstâncias políticas que denotam irresponsabilidade pública por parte de governantes estaduais e federais. Mas não existem indícios de dolo ou de gestão temerária por parte da diretoria do banco da época -conforme informações colhidas junto a pessoas que participaram das investigações.
As operações ``barras-pesadas" começam a aparecer significativamente a partir da gestão Antônio Cláudio Schochatvski, empossado em 1991.
Tomam-se US$ 250 milhões em linhas externas, que são utilizados em operações que atropelam normas mínimas de cautela bancária. Os três exemplos mais significativos são os casos Paraquímica, Moinho São Jorge e Cooperativa Agrícola de Cotia.
Em 1991, o limite de crédito da CAC salta de US$ 2 milhões para US$ 190 milhões. Com base nesse novo limite, o banco passa a distribuir fianças bancárias, livrando outros bancos do ``mico" dos empréstimos concedidos à CAC. É por aí que deverão se aprofundar as investigações.
Todas essas operações foram conduzidas pelo então vice-presidente de operações Vladimir Riolli, um dos responsáveis pelo modelo de privatização da Vasp.

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