São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Economia da informação cria um novo paradigma

GILSON SCHWARTZ

Pode ser apenas um, aliás mais um efeito do Plano Real sobre os níveis de consumo e crédito. Ou talvez tudo se deva a uma estratégia de marketing extremamente bem-sucedida.
Desconfio, entretanto, que os resultados em vendas e público na Fenasoft, na semana passada, sejam indício de algo mais duradouro e significativo que a conjuntura econômica ou campanha de venda.
A marca dos 800 mil visitantes é significativa e fala por si mesma de algo que poucos estariam dispostos a aceitar, até algum tempo atrás: o padrão econômico e tecnológico associado à ``era da informação" tornou-se um fenômeno global, relevante ao mesmo tempo no centro e na periferia do sistema econômico mundial.
Pode até mesmo ocorrer que se abram oportunidades mais rapidamente em alguns pólos periféricos. Afinal, o governo brasileiro não foi o único a mudar de rumo nesse setor, optando pela reserva de mercado para informática e depois desistindo.
O governo japonês, amplamente celebrado como articulador das mais bem-sucedidas políticas industriais, cometeu alguns pecados fatais na área da tecnologia da informação, atrasando-se frente aos Estados Unidos.
A opção japonesa foi pelos investimentos em ``hardware", a maquinaria. Mais, optou pelo projeto de ``computador de quinta geração", um megaprojeto que teoricamente dotaria o Japão de capacitação computacional avançada, além de domínio sobre etapas intermediárias no processo de produção de equipamentos e suprimentos.
Foi um erro desastroso. A entrada dos japoneses na cultura da Internet e, de modo geral, o desenvolvimento de software, deixaram a desejar. A produção de ``chips" e outros componentes (como discos rígidos e impressoras) foi facilmente transferida ou cresceu mais em outras economias asiáticas ou não, como a Malásia. Ou o Brasil.
Certamente não é casual que o homem mais rico do planeta seja um jovem norte-americano no comando de um império que por vezes parece chegar ao limite do monopólio na área de ``software", a Microsoft.
Mas a terceira fronteira da economia da informação, depois do ``hardware" e do ``software", está na capacitação dos indivíduos para a utilização e enriquecimento das plataformas padronizadas.
O novo paradigma econômico não surge automaticamente. Como alertava o filósofo Claúdio Weber Abramo, em artigo recente na Folha, o risco da nova tecnologia está na aceitação passiva da informação como produto acabado.
Ao contrário, o sucesso na economia da informação estará justamente na capacidade de operar esses instrumentos para ampliar a geração de conhecimento autêntico, não para papagaiar rotinas pasteurizadas.
A impressionante afluência de público à Fenasoft pode ser lida positivamente, se se tratar não de espectadores passivos, mas de uma massa crítica capaz de abrigar o maior número possível de criadores de um novo paradigma.
De quebra, isso mais uma vez desmentiria as teses fáceis de que à periferia nada resta senão copiar o centro ou de que superar o atraso, só por milagre.

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