São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Aproxima-se a grande batalha

LUÍS NASSIF

No segundo semestre será travada a maior batalha constitucional da moderna história do país, quando se tentará extirpar os elementos básicos de alimentação da fisiologia política, que marcaram desde sempre a vida nacional.
Do resultado desta disputa dependerá não apenas o sucesso do governo, mas também as próprias chances do país de romper definitivamente com seu subdesenvolvimento político.
As reformas do primeiro semestre ajudaram a quebrar monopólios públicos. As do segundo visam libertar o país do jugo da política convencional -desafio muito maior do que a mera reforma fiscal ou previdenciária.
As análises de conjuntura política da ``Agência Dinheiro Vivo" indicam quatro frentes básicas de batalha para se alcançar essa modernização política:
Frente 1 - reforma administrativa
Deverá reduzir drasticamente as possibilidades de indicações políticas para o serviço público, cortando uma das fontes essenciais de poder da política convencional.
Frente 2 - privatização dos grandes monopólios públicos
Significará o corte final no grande pacto entre políticos, fornecedores e corporações que, nos últimos anos, foi responsável por enormes desvios de recursos públicos e pela queda significativa na qualidade dos serviços oferecidos.
Frente 3 - reforma política
A instituição do voto distrital misto e da fidelidade partidária produzirão disciplina partidária inédita, reduzindo as danças de legendas, o leilão de votos e formação de blocos corporativos no Congresso.
Frente 4 - reforma fiscal
O disciplinamento de subsídios e o fim da guerra fiscal diluirão fortemente o poder de arbítrio fiscal de políticos, que nas últimas décadas instituíram e passaram a controlar o pedágio na concessão de incentivos fiscais.

Tempo correto
A decisão do governo de encarar essa luta no segundo semestre é significativa por vários motivos. Primeiro, por conferir perfil de estadista à atuação de Fernando Henrique Cardoso. Sua disposição será fundamental para manter a opinião pública moderna mobilizada em favor das reformas -sem a necessidade de mentir sobre a natureza da crise econômica.
Depois, porque o ``timing" das reformas é fundamental. Em geral, o mandato presidencial tem dois pólos de atração política. Na primeira metade do mandato, os políticos são atraídos pelo ímã do governo eleito. Na segunda metade, pelo dos favoritos à sucessão.
Além disso, com o tempo, a própria natureza das reformas anulará o principal instrumento de persuasão de que se valem governantes -as práticas fisiológicas que deverão ser feridas de morte pelo próprio conjunto de reformas.
A vulnerabilidade do programa está justamente nas vacilações da política econômica. O receio de abrir o flanco antes de completado o processo de reformas praticamente paralisou a equipe econômica. Estão se acumulando problemas na área externa, nas contas públicas e na área social.
A grande ameaça é justamente a situação econômica degringolar antes que o processo de reformas tenha sido completado.

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