São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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O futuro já começou

ANTONIO KANDIR

Estamos assistindo provavelmente ao início de um novo ciclo de investimentos produtivos no Brasil. São vários os sinais apontando nesta direção.
As importações de bens de capital deram um salto (aumento de 96%, se comparado o valor total importado entre janeiro a abril deste ano com igual período do ano passado).
A produção interna de bens de capital também aumentou (crescimento de cerca de 20% na produção física em relação ao primeiro semestre de 1994).
Além disso, cresce o número de fusões, aquisições e parcerias societárias para ingresso em novos mercados; empresas de grande porte de diferentes setores anunciam decisões de investimento e confirmam, em termos concretos, decisões previamente anunciadas, seja para aumento de capacidade instalada, seja para instalação de novas fábricas.
São sinais que se pode detectar preliminarmente em algumas estatísticas, captar informalmente no mundo empresarial e que começam a aparecer a olho nu nas páginas da imprensa.
Apenas para ilustrar, transcrevo trechos de matérias recentemente publicadas em grandes jornais do Rio e São Paulo: "De janeiro a junho deste ano, aproximadamente 90 operações de fusão, aquisição e joint venture foram firmadas entre empresas brasileiras e estrangeiras" (``O Estado de S. Paulo", 10/07/95); "Começou a corrida do capital estrangeiro para disputar um espaço no mercado brasileiro de telecomunicações. A perspectiva de quebra do monopólio desencadeou uma onda de associações entre grupos nacionais e estrangeiros" (Folha, 10/07/95); "Empresas de 30 setores da economia pesquisadas pela `Agência Estado' sustentam programas de investimento da ordem de US$ 33 bilhões" (``O Estado de S. Paulo", 10/07/95).
Não é coincidência que esses sinais comecem a surgir mais intensamente agora, depois de um semestre no qual o Plano Real ultrapassou momentos difíceis e o governo mostrou capacidade de articulação política e firmeza na condução do processo de reformas, conseguindo aprovar a lei de concessões e a flexibilização dos monopólios, além de dar mostras concretas de compromisso com a aceleração e ampliação do programa de privatizações, haja visto o sucesso da venda da Escelsa e os procedimentos para privatização da Light.
Que decisões de investimento estejam sendo tomadas em número crescente é indicativo da confiança do setor privado na consolidação progressiva da estabilidade econômica e na ruptura definitiva com o modelo de desenvolvimento herdado do período Vargas e dos governos militares.
Resulta desses dois processos (estabilidade e reestruturação econômica) um mundo de novas oportunidades.
As oportunidades multiplicam-se, seja pela abertura de novos mercados (tome-se o caso típico do mercado de telecomunicações, antes restrito a empresas estatais), seja pela revitalização de mercados engessados (caso da lavra de minérios e da produção de energia elétrica), seja pela expansão da demanda em mercados já existentes, desde bens populares até mercados de bens duráveis mais sofisticados.
Em face desse quadro, não obstante persistam distorções, incertezas e obstáculos a superar, o custo potencial de não investir passa a ser crescente, pois outros podem estar investindo, em número cada vez maior, e quem não investir pode pagar mais à frente por não ter feito a aposta certa no momento certo.
E o investimento tem algo de aposta mesmo, visto ser impossível determinar de antemão o comportamento de todas as variáveis relevantes.
No caso do Brasil, a aposta apóia-se na confiança de que o país ingressou numa rota de mudanças positivas.
Sabe-se que esse processo está longe de completar-se. Saltam aos olhos, porém, a força, a profundidade e o sentido convergente das mudanças. Acresce que são imensas as oportunidades de mercado subaproveitadas no Brasil.
São poucos os países nessas condições (China, Índia, Rússia). E, entre eles, certamente o Brasil é o que apresenta mais a sólida e dinâmica economia capitalista e menores incertezas quanto à estabilidade política e à unidade nacional.

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