São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 1995
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Propaganda de Rádio

FRANCESC PETIT

Entre os grandes orgulhos do Brasil estão: a música popular brasileira, as praias maravilhosas, o café, a caipirinha, a feijoada, o Rio de Janeiro e a Radiodifusão Brasileira.
Mesmo que hoje não ocupe a vanguarda no ranking das comunicações, a rádio ainda é a rainha do ar, a escola da comunicação brasileira.
Todos os meios de comunicação do Brasil estão impregnados do espírito do Rádio, as vozes maravilhosas dos locutores esportivos; ninguém no país irradia melhor uma corrida de Fórmula Um do que o Cláudio Carsughi, até parece que a corrida por ele narrada é muito melhor e muito mais interessante do que aquela que assistimos na telinha...
No futebol, os donos da bola: Sílvio Luiz, um gênio, talvez o melhor locutor esportivo do mundo e o mais bem-humorado, Osmar Santos, inventor da nova dialética esportiva.
Grandes jornalistas como: Wanderley Nogueira, José Silvério, Milton Neves, Flávio Prado, Joseval Peixoto, Realli Jr., Milton Leite, José Paulo de Andrade, Cândido Garcia, Orlando Duarte, Marcelo Parda, Gil Gomes, Afanázio Jazajdi, Ney Gonçalves Dias, Zé Béttio, Eli Corrêa, Heródoto Barbeiro, fazem do rádio um prazer cotidiano, de ouvir suas vozes inteligentes e precisas como um bisturi.
Até a nossa aviação brasileira se orienta e se diverte com as rádios espalhadas pelo país.
As verdades na rádio são mais verdadeiras e as mentiras muito mais mentira. A rádio te acorda, te acompanha no trânsito neurótico, ouvindo Bach, Caetano, ou escutando o noticiário da manhã.
Não tenho dúvidas que, em matéria de rádio, o Brasil é primeiríssimo mundo.
Com isto quero dizer que deveríamos nos engajar, todos os publicitários e produtoras de som, na campanha para acabar com a ``Hora do Brasil".
Afinal, é verdade que estamos numa democracia ou é apenas mentirinha?
Que aporte trouxe ao país esta rádio dos tempos da ditadura de Getúlio, Mussolini, Hitler, Stálin, Franco e Perón? Que aporte cultural ela deu ao país, que cantores ela revelou ou que novela ela irradiou?
Ou que notícias relevantes transmitiu, que serviço ao povo ofereceu, nem mesmo o tempo ela dá, nem o estado do mar para orientar os pescadores e navegantes. E a rádio que nada irradia o que deu de contribuição para o jornalismo brasileiro? Nada, ninguém gosta desta rádio.
Nós, os publicitários, amamos o rádio, talvez o que há de melhor na propaganda brasileira são os spots e jingles autenticamente brasileiros, sem nenhuma influência da propaganda americana ou inglesa, ao contrário do que acontece nos comerciais e anúncios impressos.
Se a propaganda de rádio fosse entendida no exterior, ganharíamos todos os prêmios.
Isto se deve a que os profissionais da área são talentosíssimos, gênios como o Sérgio Mineiro, Sérgio Campanelli, Vicente Sálvia ``Viché", Armando Mihanovich, Emílio Carrera, Tico Terpins, Zé Rodrix, Rogério Duprat, Nelsinho Ayres, Guarabira, Chiquinho de Moraes, Dudu Marote, Sérgio Augusto, Edgard Gianullo, e muitos outros talentos que fazem de um spot de 30 segundos uma verdadeira obra de arte.
É conhecido no meio publicitário que a melhor fórmula de sucesso para um comercial de televisão é pegar um jingle, tocar uma imagem bonita e o sucesso está garantido.
Assim, já está na hora de democratizar a ``Hora do Brasil" para que entre no mercado pela luta de audiência, como qualquer outra, sem o protecionismo federal.
E, principalmente, para que a gente tenha o direito de ouvir a rádio da nossa predileção na volta para casa, após um longo dia de trabalho.

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