São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 1995
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Baden Powell volta à bossa

CARLOS CALADO
DO ENVIADO ESPECIAL A MONTREUX

Na dúvida entre continuar vivendo em seu país ou retornar à Europa, onde morou durante mais de duas décadas, Baden Powell -o violonista brasileiro mais cultuado no cenário internacional- decide ficar com ambos.
``Sempre tive vontade de fazer isso. Agora vou passar uma temporada aqui e outra no Brasil", disse Baden, 57, à Folha, horas antes de seu concerto na noite de encerramento do Montreux Jazz Festival, anteontem, na Suíça.
No repertório desses concertos, o violonista alterna suas originais composições com vários clássicos da música popular brasileira, de autores como Pixinguinha, João Pernambuco, Dorival Caymmi e Vinicius de Moraes.
``O que eu tenho feito de diferente nos últimos tempos é cantar mais, porque a turma está com muita saudade dos tempos da bossa nova. Eu não sou cantor, mas me sinto na obrigação de lembrar aquelas músicas", diz.
Essa nostalgia da bossa nova, segundo Baden, tem relação com a ausência dos grandes compositores do movimento, como Vinicius de Moraes e Tom Jobim. ``Sempre que eu canto alguma música deles, a turma vibra e quer mais."
A menção a Tom Jobim ainda o deixa emocionado. ``Essa falta não vai ser preenchida nunca. Indiscutivelmente, ele foi o grande compositor moderno dos últimos tempo. Acho que ele até merecia ter sido mais valorizado."
Para o violonista, a bossa nova ``veio para ficar". ``Ela não depende de moda, porque é uma música bonita, rica tanto na harmonia, como na melodia e no ritmo. É uma música cheia de amor, coisa que anda cada vez mais escassa."
Claro que, além de revisitar os clássicos da bossa nova, Baden não deixa de incluir no repertório dos shows pelo menos um de seus deliciosos sambas-afros.
``Eu sempre penso que a turma não vai se lembrar mais deles, mas fico surpreso quando um francês ou um alemão pedem `Berrimbau' ", diz, imitando a carregada pronúncia européia.
Outro motivo de orgulho para Baden é a promissora vocação musical de seu filho, Lui Marcel, 13. ``Ele já quer disputar comigo, o que eu acho ótimo. De vez em quando deixo ele tocar alguma coisa nos concertos e ele tem agradado muito. Só não quero que ele abandone os estudos", diz.
Caso o garoto decida, mais tarde, trocar o atual violão acústico pela guitarra elétrica, o pai-coruja diz não ver problemas. ``Isso não atrapalha nada. Quando eu tinha uns 17 anos, comprei uma guitarra Gibson formidável e tocava muito jazz", lembra.
Embora ainda não queira adiantar mais detalhes, Baden admite ter planos de fazer três álbuns, em breve. ``Será tudo gravado na França e em estúdio", resume, sem revelar o repertório ou por qual gravadora. ``Só posso dizer que será um negócio muito bom para a música brasileira."
Otimista, o violonista afirma que a música brasileira nunca esteve tão bem no cenário internacional. ``Não existe hoje no mundo uma música que você possa comparar com ela. E não digo isso por ser brasileiro."
Para Baden, hoje a música brasileira supera o jazz. ``Se eu fosse hoje um músico de jazz, preferiria tocar um jazz em ritmo de samba. Tem muito mais balanço."
(CC)

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