São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 1995
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Mirante baiano pode ter 4.000 anos

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

A arqueóloga carioca Maria da Conceição Beltrão anunciou ontem em Central (502 km de Salvador) a descoberta de um observatório astronômico cuja idade ela estima entre 2.000 e 4.000 anos.
Segundo a arqueóloga, que também é professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), esta é a única descoberta do gênero no Brasil.
Beltrão chefia o Departamento de Arqueologia do Museu Nacional do Rio de Janeiro.
O observatório, localizado em Central, foi descoberto há cerca de dez dias. ``Estava tentando encontrá-lo desde o ano passado", disse a pesquisadora.
``O observatório possui uma forma elipsoidal (em forma de elipse), pavimentada com pedras trabalhadas por homens que habitavam a área", disse.
A arqueóloga carioca disse que o observatório está situado em uma planície. ``Dentro desta planície há uma área elíptica de 80 metros quadrados, pavimentada por pedras de calcário negro de ótima qualidade."
Segundo a arqueóloga, a elipse se orienta de leste a oeste, caminho percorrido pelo Sol. ``Isso deixa claro que o Sol era cultuado pelos antigos moradores da região."
Maria Beltrão disse que os resultados de suas pesquisas revelam que a astronomia no interior da Bahia ``era muito desenvolvida e complexa no período".
``Encontrei calendários lunares, solares, lunissolares (união dos dois calendários), sistemas de contagem e rudimentos de escrita", disse.
Maria Beltrão disse que está pesquisando uma área oito vezes maior que a Holanda. ``A região é muito rica e novas descobertas podem acontecer a qualquer momento", afirma.
A arqueóloga disse que fez uma avaliação relativa da idade. ``O sítio foi descoberto há apenas dez dias. Agora estou escavando a área para tentar encontrar carvão e outras características do grupo que habitou a área."
A professora disse que as amostras devem ser levadas em outubro para os Estados Unidos para serem datadas.
Andes
Beltrão disse que todos os achados deste tipo são mais antigos no Brasil do que os encontrados na região dos Andes, na América Latina.
A arqueóloga disse que em Nazca, no Peru, os achados datam de 1.750 anos. ``Aqui já encontrei achados astronômicos com 3.840 anos", disse.
A arqueóloga e mais 15 pesquisadores devem permanecer em Central até o próximo dia 6. ``As conclusões definitivas desta descoberta somente devem acontecer dentro de três anos."
Anteontem, a arqueóloga conversou com o astrônomo Rogério Mourão, do Observatório Nacional. Depois de ouvir o relato de Beltrão, o astrônomo disse que o achado poderia ser um relógio solar ou uma construção para marcar estações, solstício ou equinócios (período em que dias e noites têm a mesma duração).
Beltrão disse que faz pesquisas na região há 12 anos. Em Xique-Xique (BA), a arqueóloga descobriu outro observatório astronômico com calendários solar e lunar, registro de solstício (período que acontece no inverno e verão em que o sol alcança a linha dos trópicos).
A pesquisadora disse também que já encontrou na região animais pleistocênicos (animais que se supõem extintos há mais de 11 mil anos).

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