São Paulo, domingo, 30 de julho de 1995
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Balanço dos bancos confirma os calotes

RODNEY VERGILI
DA REDAÇÃO

Os balanços do primeiro semestre de 1995 -que começam a ser divulgados- indicam nível recorde de inadimplência (atrasos de pagamentos) aos bancos.
Em 13 balanços de bancos analisados, o índice de inadimplência -medido pelos pagamentos em atraso em relação às operações totais de crédito- passou de 1,23% no primeiro semestre de 1994 para 1,48% em dezembro de 94 e chegou ao patamar inédito de 3,43% em junho passado.
Mesmo com o aumento da inadimplência, os lucros dos bancos voltaram a crescer.
Erivelto Rodrigues, diretor da Austin Asis, diz que as altas taxas de juros cobradas pelos bancos nos financiamentos e o aumento das receitas com tarifas cobriram com folga a elevação nos atrasos de pagamentos dos clientes.
Em oito anos que a Austin Asis Consultoria analisa os balanços de bancos, ``nunca houve tamanha inadimplência nos resultados semestrais", afirma Rodrigues.
Os elevados juros reais (acima da inflação) aumentaram o lucro dos bancos em relação ao patrimônio (dinheiro próprio) das instituições de 15,98% em junho de 94 para 16,66% em dezembro de 94 e 18,39% em junho passado.
José Renato Simão Borges, vice-presidente do Banco Dibens, diz que a instituição teve, no entanto, reduzido atraso nos pagamentos dos créditos, uma vez que é especializada no setor de transportes, com concentração de 92% de suas operações com garantia real (com a propriedade dos bens).
O lucro sobre o patrimônio (dinheiro próprio) do Banco Dibens aumentou de 25,78% (taxa anualizada) no primeiro semestre de 94 para 31,06% neste período de 95.
A inadimplência afetou de maneira mais significativa os bancos com grande rede de agências e que atuam mais junto a pessoas físicas, afirma José Baia Sobrinho, presidente do Banco Pontual.
O Banco Pontual trabalha basicamente com empresas e adotou como política a redução no volume de crédito no primeiro semestre deste ano. Isso ajudou a explicar a queda na taxa de inadimplência de 2,37% no balanço do Banco Pontual no primeiro semestre de 94 para 1,77% no primeiro semestre de 95.

Perspectivas
Paulo Aguiar Toschi, vice-presidente do Banco Mercantil de São Paulo, diz que os bancos conviveram com amplas restrições impostas pelo governo. Os depósitos compulsórios (dinheiro que os bancos têm de deixar no Banco Central) foram substancialmente elevados, bem como reduziram-se para apenas 90 dias os prazos máximos de empréstimos e financiamentos com objetivo de diminuir o consumo.
As medidas provocaram elevação geral nas taxas de juros e houve aumento na inadimplência das empresas e pessoas físicas.
Toschi diz que, completado um ano do Plano Real, nota-se que a economia brasileira conseguiu ``capitalizar os primeiros resultados trazidos pela estabilidade monetária" e pelo início dos esforços no Legislativo para ``um desenvolvimento sadio".
O Banco Mercantil de São Paulo aumentou sua lucratividade de 7,3% (taxa anualizada) em junho de 94 para 12,55% em junho deste ano. A inadimplência aumentou de 1,06% para 3,94% da carteira total de crédito de curto prazo (menos de um ano) no mesmo período.
O Credibanco realizou lucro líquido de R$ 7,4 milhões no primeiro semestre (R$ 17,8 milhões no período de 94). Osias Santana de Brito, diretor-adjunto do Credibanco, afirma que ``as boas perspectivas de resultados para o segundo semestre permitem entrever o atingimento dos resultados estabelecidos para o ano de 1995".
O Banco Nacional aumentou sua lucratividade de 13,97% no primeiro semestre de 94 para 15,23% (taxa anualizada) no mesmo período deste ano. Segundo relatório do Banco Nacional, as instituições viveram mais um período de adaptação a desafios de curto prazo. O banco aumentou em 4,06% sua carteira de empréstimos. A inadimplência no Banco Nacional passou de 0,82% no primeiro semestre de 94 para 2,09% no mesmo período deste ano.
A lucratividade do Bamerindus caiu de 16,12% no primeiro semestre de 94 para 10,11% no mesmo período de 95. Mesmo assim, ficou acima da taxa da poupança (6%). Os totais dos créditos vencidos há mais de 60 dias no Banco Bamerindus representou 3% do total das operações de crédito (0,5% em 30 de junho de 94).

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