São Paulo, domingo, 30 de julho de 1995
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Trigo e feijão pressionam no 2º semestre

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

O gargalo do abastecimento de grãos neste segundo semestre pode estar no feijão e no trigo.
Nos últimos trinta dias, o preço do trigo recebido pelo produtor subiu 7,3% e do feijão 5,7%. Só na última semana, o feijão carioca, de melhor qualidade, teve alta de 28,5% no atacado de São Paulo, segundo a Associação Brasileira dos Cerealistas (Abrace).
Essa perspectiva de abastecimento mais apertada, que já está se refletindo nos preços, se deve a três fatores, dizem analistas.
Os estoques do governo desses dois produtos estão praticamente zerados, a possibilidade de importação é restrita e a safra, no caso do trigo (de 1,5 milhão de toneladas), dá apenas para dois meses.
``Corremos o risco da 3ª safra de feijão, que entra no mercado a partir de agosto, seja menor que o esperado", diz Walter Winge, da consultoria Safra & Mercados.
A estimativa inicial é que 60 mil toneladas de feijão sejam colhidas neste semestre.
Como os produtores estão insatisfeitos com os baixos preços recebidos na última safra, a perspectiva é reduzir a área plantada, diz Manoel da Costa Pereira, presidente da Abrace. Nas suas contas, só no interior de São Paulo, a área com feijão pode cair 40%.
Segundo Winge, hoje o governo tem um estoque irrisório de 59 toneladas de feijão na forma de Empréstimos do Governo Federal (EGF) e Aquisições do Governo Federal (AGF). Há ainda, diz ele, alguma sobra de produto nas cooperativas, mas a qualidade é duvidosa. O país consome por ano 3 milhões de toneladas de feijão.
``O gargalo do abastecimento pode estar no feijão porque não há alternativa de importação", diz Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de pesquisas Econômicas (IPC-Fipe).
O feijão pesa 0,71% no IPC-Fipe, o que não representa muito. Mas, segundo Heron, o impacto do feijão é relevante porque a variação de preço é muito grande.

Trigo
No caso do trigo, a situação é mais grave. Além de não existir produto no mercado internacional, a safra já está sendo colhida e não há, portanto, como estimular a produção para este ano.
Gil Carlos Barabach, analista da Safra & Mercados, diz que a seca nas principais área produtoras (Estados Unidos, Austrália e Canadá) derrubou a oferta. A Argentina, o principal exportador de trigo para o Brasil, desviou as vendas para os países da Oceania.
Resultado: na terceira semana de julho, a cotação do trigo na Bolsa de Chicago chegou a US$ 175,54 por tonelada, a mais alta desde 81.
A onda de calor que atinge as principais regiões produtoras de grãos dos Estados Unidos teve, até agora, efeitos especulativos nos preços da soja e do milho no mercado internacional.
Segundo os analistas, ainda não se sabe qual será a quebra da safra provocada pela onda de calor.
A soja, por exemplo, cotada a R$ 9 por saca (60 kg) no final de junho, atinge agora R$ 11,60, no interior do Paraná.
Flávio Turra, técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), atribui parte dessa alta aos movimentos especulativos da Bolsa de Chicago.

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