São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Seguros, o ano está fechado

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

Em cem anos de atividade seguradora brasileira nenhum ano foi tão bom como 1995. E nós ainda estamos na metade dele! Com o governo tomando uma série de medidas duras para segurar o Plano Real até o Congresso votar as mudanças necessárias para a estabilização definitiva de nossa economia, será que não é otimismo afirmar isto?
O surpreendente é que a resposta é não. Não há otimismo nenhum, pelo contrário, os números de 31 de dezembro devem ser ainda melhores do que os do ano passado.
O exercício fechado no final de 94 mostrou um crescimento impressionante dos prêmios de seguros, que pularam, tomando-se o valor médio do dólar no período, de US$ 4,9 bilhões em 1993 para US$ 8 bilhões em 1994.
Muita gente tem dito que é mais. De qualquer forma, sejam US$ 8 bilhões ou US$ 10 bilhões, dificilmente outro setor econômico apresentou um crescimento parecido e este crescimento foi inteiramente feito no segundo semestre do ano.
O faturamento das seguradoras não é apropriado de uma única vez, como acontece na maioria das atividades econômicas. Ao contrário, ele é dividido em 12 meses, de forma a ser proporcional aos riscos assumidos, que têm vigência média de um ano.
Como a grande virada do setor veio no segundo semestre do ano passado, boa parte do faturamento responsável pelo desempenho do primeiro semestre de 95, que foi melhor ainda, já estava contratada em 94.
Quer dizer, as apólices contratadas no segundo semestre do ano passado são as responsáveis por parte importante dos resultados apresentados pelos balanços fechados em 30 de junho de 95.
Como durante os primeiros seis meses do ano as seguradoras experimentaram um aumento de vendas maior do que o verificado depois da entrada em vigor do real e como, pela regra acima, um pedaço significativo deste dinheiro deve ser apropriado apenas no segundo semestre, pode-se dizer que o ano, para as companhias de seguros, já está fechado e bem fechado.
Fazendo justiça a quem merece, as explicações para este desempenho devem começar pelas companhias de seguros e pelas ações que elas desenvolveram ao longo dos dois últimos anos e que as levaram a se posicionar entre as atividades com maior crescimento dentro da economia nacional.
O ano de 1993 foi um dos piores da história do seguro brasileiro. Um número enorme de seguradoras teve o seu pior desempenho operacional ao longo dele. Os prejuízos industriais chegaram na casa das centenas dos milhões de dólares e só foram compensados, ou melhor, camuflados, graças à correção monetária.
Como a guerra ameaçasse entrar 94 a dentro, as principais seguradoras decidiram colocar ordem no mercado, especialmente na carteira de automóveis, onde os prejuízos eram mais sentidos. As ações foram implementadas ao longo do primeiro semestre daquele ano, concomitantemente com a entrada em vigor do real.
A estabilização da moeda foi fundamental para consolidar o seu sucesso. Com preços estáveis foi possível negociar em condições mais vantajosas, reduzindo o custo dos sinistros.
Mas a estabilização da moeda trouxe ainda uma segunda surpresa: com o real, pessoas que nunca tinham se interessado por seguro passaram a contratar apólices, não só de automóveis, mas principalmente de seguros de vida, planos de saúde e previdência privada. E esta tendência se manteve durante todo o segundo semestre do ano passado e o primeiro semestre deste ano.
Como a maioria delas vinha desenvolvendo processos severos de redução de custos administrativos, a soma destes fatores trouxe uma melhora considerável em seus índices combinados, com o aumento da receita, conjugado com a redução dos custos e com a estabilização dos sinistros, invertendo um resultado que vinha negativo há alguns anos e que deve ficar próximo a 5% positivos no final de 95.
Para completar o cenário só faltava a ajuda do governo e esta veio de forma indireta. Uma companhia de seguros nada mais é do que um fundo, uma caderneta de poupança, com destinação específica.
Ao privilegiar uma política de juros reais tremendamente altos, o governo melhorou ainda mais o que já estava bom. Os resultados patrimoniais das seguradoras cresceram em termos concretos, passando a significar um lucro extra inesperado, mas muito bem-vindo.
Tradicionalmente, para a atividade seguradora, o segundo semestre costuma ser melhor do que o primeiro. Como o primeiro já está fechado e bem, mesmo que as medidas implementadas pelo governo consigam reverter esta tradição, não há mais jeito de as companhias de seguros terem os seus balanços de 95 comprometidos. Nunca na sua história elas ganharam tanto dinheiro como neste ano, mesmo com o ano estando ainda no meio.
Durante o segundo semestre devem ser votadas leis que as favorecerão, especialmente nas áreas de saúde e previdência. Assim 1996 tem tudo para também ser um grande ano e o setor de seguros nacional assumir definitivamente o papel que lhe cabe dentro do cenário econômico e social brasileiro.

Texto Anterior: Inflação muito católica
Próximo Texto: A briga já começou
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.