São Paulo, quarta-feira, 2 de agosto de 1995
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País recebeu US$ 3,98 bilhões em julho

VIVALDO DE SOUSA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O resultado do movimento no mercado de câmbio em julho foi um superávit, ou seja, um ingresso de recursos, de US$ 3,98 bilhões. O saldo é o maior já registrado pelo Banco Central, que começou os levantamentos do mercado de câmbio em 1982.
No mercado financeiro de câmbio -que inclui o capital especulativo, financiamentos e empréstimos- o saldo de julho foi positivo em US$ 2,107 bilhões, o maior desde o lançamento do Plano Real. O ingresso é resultado dos juros praticados pelo BC e maior previsibilidade da evolução do dólar.
O saldo das operações de exportações contratadas em julho foi de US$ 4,944 bilhões, contra importações de US$ 3,038 bilhões. O saldo das importações em julho foi o menor desde outubro de 1994, quando ficou em US$ 2,478 bilhões, segundo dados do BC.
Foi em outubro do ano passado que o governo reduziu as alíquotas de importação de diversos produtos. Desde então, o resultado da contratação de importações foi aumentando mês a mês. O maior volume de contratação de importações foi registrado em junho último (US$ 4,205 bilhões).
O resultado acumulado do mercado comercial de câmbio, que envolve operações de exportação e importação, foi de US$ 1,8 bilhão em julho.
Pela primeira vez em 1995, o saldo anual do mercado de câmbio de taxas livres foi positivo: ficou em US$ 664,9 milhões. O bom desempenho no mercado de câmbio em julho aumentou o nível das reservas internacionais brasileiras, que hoje está sendo calculado entre US$ 37 bilhões e US$ 40 bilhões pelo mercado.
Ao mesmo tempo que tem um reflexo positivo sobre as reservas cambiais, o aumento no ingresso de dólares pode trazer dificuldades para o plano de estabilização.
Ao comprar os dólares, o BC coloca mais reais em circulação na economia. Para evitar excesso de liquidez (quantidade de reais), o governo tem ainda que emitir títulos para reduzi-la.
``Isso não é bom porque pode trazer inflação no futuro", afirmou o economista Sérgio Werlang, diretor do Banco da Bahia.
O resultado de julho se explica por dois fatores: 1) taxa de juros interna maior que a externa; e 2) bancos que compraram grande volume de dólares em junho e venderam parte em julho. Werlang acrescentou ainda, como causa, a política de pequenas desvalorizações do real adotada pelo BC.
A diretora-executiva da Anecc (Associação Nacional das Empresas Corretoras de Câmbio), Clarice Pechman, disse que, além da política de desvalorização gradual do real, houve uma redução importante na contratação de importações, o que deve se repetir nos próximos meses.
Os dois economistas concordam que este resultado terá efeitos sobre a política monetária. ``Isso passa a ser uma das principais preocupações da equipe econômica", disse Pechman. Ela e Werlang acham que vai ser necessário o governo adotar alguma medida de restrição ao ingresso do capital estrangeiro.
Em entrevista coletiva concedida na segunda-feira, o presidente do BC, Gustavo Loyola, afirmou que o governo não estuda no momento nenhuma medida para limitar o ingresso de capital externo.
A redução da taxa de juros adotada na semana passada, segundo os dois economistas, não é suficiente para reduzir o fluxo de capital estrangeiro para o Brasil. Outra opção, segundo Werlang, é a ampliação da banda cambial -hoje ela é de R$ 0,91 a R$ 0,99, mas dificilmente supera R$ 0,935.
Pechman disse ainda que o ideal é o governo adotar medidas de restrições no câmbio financeiro e não no comercial. Segundo ela, as exportações brasileiras estão aumentando e as importações, caindo.

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