São Paulo, quarta-feira, 2 de agosto de 1995
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Preços desafiam o Real

ANDRÉ LAHÓZ

O Plano Real derrubou a taxa de inflação para 35% no primeiro ano da nova moeda.
Trata-se de um sucesso inegável até agora, mas o governo precisa de muito mais para tranquilizar a sociedade quanto à sustentabilidade da estabilização daqui para frente. E há muitas dúvidas sobre as chances de que isto ocorra.
Para estabilizar realmente a economia, é preciso sucesso na desindexação. Sem isso, a inflação pode voltar a cada instante -bastaria, por exemplo, um choque de oferta para que a alta de preços se perpetuasse.
Existem dois tipos de indexação, a formal e a informal. Se o governo pode tentar impedir a indexação formal, ele tem menor controle sobre a informal -esta depende basicamente dos preços.
Uma inflação de 35% ao ano é uma boa performance para o primeiro ano da estabilização, mas é muito para tentar ``matar" a indexação. Se o governo conseguir resultado abaixo de 20% no segundo ano, terá dado um passo significativo em direção a uma economia mais estabilizada.
No primeiro ano, a queda da inflação foi acompanhada por um constante acúmulo de problemas econômicos.
Em primeiro lugar, a valorização do câmbio e a abertura da economia reverteram a balança comercial. Desde novembro, a importação é maior que a exportação.
Por outro lado, as tarifas públicas ficaram fixas, perdendo 35% em termos reais.
Além disso, a volta do crédito e o aumento da renda da população causaram uma elevação exagerada no consumo.
Tais problemas forçaram uma mudança nas prioridades do governo. Resolvê-los passou a ser mais importante que derrubar os preços.
No curto prazo, no entanto, tais problemas parecem equacionados.
A balança comercial será revertida no segundo semestre. Colaboram para isto o recente deslizamento do câmbio, as restrições crescentes às importações de certos produtos e o acúmulo de estoques na economia, que diminui fortemente a demanda por mais produtos do exterior.
À medida que os estoques forem sendo reequilibrados, no entanto, os pedidos de importação podem voltar.
As tarifas, por sua vez, estão sendo corrigidas -aliás, são as maiores responsáveis pela alta dos índices de preço em julho.
No lado do desaquecimento, os sinais são cada vez mais claros, embora seja cedo para se falar em recessão.
A contrapartida na mudança de prioridades é que a queda da inflação neste segundo ano de real será bem menor do que se poderia imaginar. Em outras palavras, o governo resolve problemas acumulados ao longo dos últimos doze meses, mas ``paga" com uma redução menor nos índices de preço.
Os motivos são óbvios. Ao corrigir tarifas, o impacto nos preços é direto.
No lado do câmbio, a recente mudança na condução da política faz com que o uso da âncora seja bem menos intenso. O gradual fechamento da economia caminha na mesma direção.
O índice da Fipe deve acumular mais de 8% em apenas três meses (considerando 3,5% em julho, 2,5% em agosto e 2% em setembro). ``Sobram" 10,9% para os outros nove meses (ou 1,2% por mês, em média) para que a taxa anual resulte em 20%.
É pouco provável que isto ocorra. A seu favor, o governo conta com desaquecimento da economia, nível menor de indexação e taxa de juros menores (elas devem cair mais daqui para frente).

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