São Paulo, quarta-feira, 2 de agosto de 1995
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Participação nos lucros ou nos custos?

JULIO LOBOS

Erramos: 05/08/95
Os dirigentes da Nucor, uma empresa que sobreviveu à ``débâcle" da siderurgia norte-americana nos anos 80 e que hoje figura entre as mais lucrativas do mundo, são taxativos: as coisas só melhoraram quando os empregados passaram a engordar seus ganhos por conta da superação dos resultados previstos pela empresa.
À luz do anterior, poderia-se imaginar que o governo faz mensalmente a felicidade do empresariado nacional ao reeditar a MP 1.051 sobre a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados das empresas, emitida no apagar das luzes -luzes?- do governo Itamar. Ledo engano. A prova é que, ultrapassada a metade do ano, pouquíssimas empresas, se algumas, se ativeram aos termos da MP 1.051.
E qual seria o motivo de tanto desinteresse? Simples: onde reza ``participação nos lucros", o empresário só lê: ``participação nos custos". Para ele, cumprir a MP significa drenar ainda mais os já combalidos cofres da empresa, por conta da voracidade da mão-de-obra, para, juntos, superarem os resultados programados -a partir do que todos ganhariam alguma coisa. (Sem mencionar que a própria MP 1.051 oferece isenções tributárias nada desprezíveis).
E por que os empresários nacionais, à diferença dos seus colegas norte-americanos na Nucor, não enxergam isto?
Porque são impedidos de fazê-lo por empresas-líderes, sindicatos e o próprio governo. Vejamos:
Nas últimas semanas, a maioria das montadoras de automóveis concedeu a seus empregados, agora sob o rótulo de ``participação nos resultados" (e, claro, o patrocínio da MP 1.051), um abono em dinheiro semelhante ao distribuído toda vez que o arrocho salarial aperta.
O impacto sobre milhares de outras empresas, muitas delas fornecedoras de autopeças, será instantâneo e arrasador. E não só porque os montantes pagos pelas montadoras são proibitivos para muitas delas, mas porque serão calculados como abonos salariais e não como participações.
Em vez de se perguntar ``qual o resultado empresarial que precisamos atingir?" e, em seguida, ``qual o ganho adicional dos trabalhadores, caso esse resultado seja atingido?", encara-se, de fato, uma única (e velha) questão: ``Quanto temos que negociar por conta da reposição salarial?" A pressão, então, vem do mercado de salários, e não do mercado onde a empresa coloca seus produtos e serviços.
E o sindicato estaria interessado em ajudar o empresário a enxergar a remuneração variável como recurso competitivo? Não parece, a julgar pela exótica iniciativa adotada recentemente por uma das centrais sindicais: o ``Telerresultados". O que é isto? Nada mais que um serviço de atendimento ao empregado-delator.
Delator de quê? De empresas que camuflam seus resultados operacionais e econômicos, ora essa! É só o Mané pegar o telefone e ``dar o serviço". Igualzinho aos tempos da França ocupada, na Segunda Guerra Mundial. Muito estimulante. De puro susto, os empresários irão se tornar altamente transparentes e, sobretudo, receptivos à participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados!
E o governo? Suas lideranças no Congresso já negociam a punição da empresa relutante em formalizar a participação dos seus empregados nos lucros ou resultados. Em quanto? Fala-se em 3% do lucro. O PT, claro, já exige 10%. E quer também que o empresário abra sua contabilidade.
Pois terá que esperar sentado. E, junto dele, o cidadão-trabalhador, que bem poderia -e há muito tempo- estar faturando um algo a mais se não fosse tanta estupidez dos que dizem representá-lo.
É difícil esperar que alguma coisa boa para o país emerja de tudo isso. Seria menos desgastante se o governo emitisse uma nova e definitiva MP: a do 14º salário. Os trabalhadores acabariam satisfeitíssimos, ainda que não motivados (mas esse é apenas um detalhe), e os sindicatos, prestigiados.
Os empresários, por sua vez, calculariam seus custos de mão-de-obra com tranquilidade, além de ficarem relevados da tarefa enfadonha de ter que planejar a excelência que o mercado exige. E o país? Bem, ele terá aproveitado mais uma oportunidade de continuar sendo uma promessa. E isto é sempre melhor do que nada, não?

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