São Paulo, quarta-feira, 2 de agosto de 1995
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'Irmãs' afirma talento diabólico

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Existe em "Irmãs Diabólicas" (Globo, 0h) um lado bem Hitchcock. Tanto é que, antes de assassinar seu amante, Margot Kidder tem uma discussão com uma pessoa que não se deixa ver.
Estamos, assim, no mesmo compasso das discussões de Norman Bates com a mãe em "Psicose". E, como em "Um Corpo que Cai", estamos diante de um caso de duplicação de personalidade: as irmãs diabólicas, funcionam como Kim Novak naquele filme em que faz os papéis de Judy e Madeleine.
Hitchcock, sabemos, trabalhava nos limites estritos da narração clássica. Mas De Palma também usa como referência outro cineasta, embora de forma menos evidente: Orson Welles.
Welles já tinha sido, aliás, personagem (com função de mestre) em um filme anterior de De Palma. Agora, De Palma toma emprestada de Welles a idéia de labirinto, de saber impossível, de narração impossível.
Ao buscar apoio nesses dois mestres, De Palma não afirma apenas uma filiação (embora ela faça parte do jogo). O que se define é o cinema como arte "culta", dotada de uma história, onde a inocência tornou-se, com o correr do tempo, impossível.
Sua arte consiste em isolar certos elementos desses mestres, colocá-los em relevo, esmiuçar uns tantos procedimentos. Ou seja, reconstituir seu funcionamento e devolvê-los, transfigurados, mas também, de certo modo, purificados: reencontrando a natureza do cinema como arte popular.
Espera-se, apenas, que a Globo não reedite a falseta de algumas semanas atrás, quando programou o filme e cancelou-o. "Irmãs" afirma um talento diabólico.(IA)

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