São Paulo, quarta-feira, 2 de agosto de 1995
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Pais compram gato por lebre

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Tem pai que é cego. Sai contando por aí que o filho é um fenômeno da informática na faculdade, justificando investimento em computador de última geração. Mal sabe que o Júnior só precisa de mais memória para ampliar sua coleção de fotos pornográficas.
Muito pai americano teria um colapso se frequentasse o disco rígido do pimpolho. Uma pesquisa recente mostrou que os universitários daqui estão entre os maiores frequentadores dos endereços virtuais que distribuem fotos de mulher pelada, cenas de sexo inusitado e textos que até a ``Playboy" se recusaria a publicar.
Coisa da idade, diria o pai mais complacente. Mas os críticos da informática aproveitam essa brecha para atirar firme no uso do computador na educação. Argumentam que tem muito estudante carregando laptop de US$ 5 mil como símbolo de status. E, que no campus, a máquina atrapalha muito mais do que ajuda, consumindo com bobagens o tempo que o aluno poderia usar no laboratório ou na leitura.
Antes de avançar é preciso que o leitor se lembre que, nos EUA, a maioria dos alunos mora em dormitórios na faculdade ou na vizinhança. E que universidade que se preze já conectou seus alunos e professores em rede, permitindo que eles troquem mensagens ou frequentem a Internet.
Aliás, de olho em futuros alunos, muita escola superior daqui já tem endereço na Internet para permitir que o candidato se informe melhor sobre o ambiente que pretende frequentar.
Por falar em Harvard, estudante de lá tem seu próprio computador no quarto. Dá para tirar dúvidas por e-mail, checar o calendário de atividades esportivas e pesquisar on line na biblioteca da escola.
Num livro recente, o astrônomo Clifford Stoll dedica um capítulo inteiro a atacar o uso do computador nas escolas. Diz que uma geração embasbacada pela tecnologia está comprando gato por lebre para os filhos. Que nada poderá substituir o contato pessoal entre professor e aluno. Que o tempo que o estudante passa diante da tela o afasta da convivência social.
Ele se mostra mais preocupado com o alto investimento que algumas redes públicas estão fazendo para colocar computadores em classes de primeiro e segundo graus. Acha que o dinheiro seria melhor investido em excursões e outros experimentos práticos. E que é preciso desmistificar o computador como apenas mais uma ferramenta e não um fim em si da educação.
Aqui em Nova York, a New School for Social Research não está nem aí para os críticos. Desde o ano passado, transformou-se na primeira universidade virtual do país: oferece 38 cursos on line e estudantes frequentam aulas via micro do mundo todo. Tem até um aluno de Cingapura.
Funciona assim: o professor carrega as informações sobre o curso no computador central da escola em Manhattan. Os estudantes acionam, via linha telefônica, e passam a fazer pesquisas e cumprir tarefas.
O programa foi batizado de ``Instrução à Distância para Estudantes Adultos". Se a idéia é desmistificar o computador, ficaria melhor dizer que se trata do velho curso por correspondência. No caso, eletrônica.

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