São Paulo, quarta-feira, 2 de agosto de 1995
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Dinheiro que fica

A experiência internacional, em especial a crise do México, deixou dramaticamente claro o significado de ``smart money". O ``dinheiro esperto" é o que circula na velocidade da luz, entrando e saindo dos países sem outro compromisso que não o ganho imediato.
Essa esperteza custa caro. Para ficar, esse dinheiro exige altíssimas taxas de juros. Ao sair, deixa um rastro de instabilidade cambial, inflação e desestruturação da economia. Ao entrar, gira na especulação. Ao sair, destrói a base produtiva.
Evitar ou pelo menos minimizar os efeitos desestabilizadores do ``smart money" é um desafio que hoje integra a agenda mundial. Afinal, a vítima pode ser um México, mas também um país central (como nas crises cambiais européias) ou mesmo vetustas casas financeiras (como no exemplo recente da Barings inglesa).
A adesão do governo ao protocolo da Organização Mundial do Comércio (OMC) que liberaliza os sistemas financeiros tem, entre outros méritos, a capacidade de fortalecer o Brasil como possível nova meca de investimentos duradouros, em vez do ``smart money".
Permitir às instituições financeiras globalizadas maior participação nos mercados brasileiros, aliás, é uma extensão natural do fato histórico, de décadas, de ser o Brasil hospedeiro de uma das mais diversificadas e internacionalizadas estruturas produtivas. A rigor, desde os anos 50 o Brasil se ``multinacionaliza", e a liberalização do sistema financeiro, ainda que tardia, desempenha papel relevante nesse processo. A quebra de mais essa reserva de mercado, aliás, converge com outros esforços no âmbito da reforma constitucional e da quebra de monopólios estatais.
Evidentemente, não se trata de uma panacéia. Internacionalizar significará, sempre, ter acesso a novas oportunidades, mas também estar mais exposto aos riscos de uma ordem global ainda em fase de definição. Os riscos serão menores, entretanto, à medida que sejam maiores as oportunidades para que o dinheiro que entra fique.

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