São Paulo, quarta-feira, 2 de agosto de 1995
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A Previdência de 2030

JOSIAS DE SOUZA

As contas são fresquinhas. Acabam de saltar das máquinas de calcular dos técnicos do governo. Se tudo correr bem, se a economia brasileira crescer à taxa anual de 4%, a Previdência Social terá, daqui a 25 anos, um déficit de caixa anual de R$ 15 bilhões (cerca de 3% do PIB).
Preservado o modelo atual, em 35 anos, quando estivermos em 2030, o buraco será de R$ 30 bilhões por ano. Os cálculos incluem apenas a previsão de gastos com as aposentadorias e pensões dos trabalhadores da iniciativa privada. Estão excluídos os aposentados do serviço público.
O caso do funcionalismo é mais grave. A estimativa do ministro Reinhold Stephanes é de que, em 15 anos, os médios e grandes municípios do país estarão gastando 100% de toda a sua arrecadação de impostos apenas para pagar benefícios previdenciários.
Os dados relativos ao setor privado constam de um calhamaço de mais de 200 páginas. Preparado por técnicos do Ipea e do IBGE, o documento descansa sobre a mesa de Stephanes. Será divulgado nas próximas semanas, num novo esforço para tentar convencer deputados e senadores a aprovarem a reforma previdenciária.
Os números enterram uma tese que começava a ganhar corpo no Congresso. Preocupados com a reação negativa às mudanças na Previdência, um grupo de parlamentares se dispunha a aprovar as novas regras, desde que valessem apenas para o futuro.
Trabalhador nenhum precisaria se preocupar. Só o cidadão empregado no dia seguinte à sanção da nova lei estaria sujeito ao modelo de Previdência proposto pelo governo. Nesse caso, o dinheiro resultante da reforma só começaria a pingar nos cofres da Previdência daqui a 38 anos.
``Tudo bem", diz Stephanes. ``É preciso apenas que alguém diga o que deve ser feito com o déficit, que será de 3% do PIB em 25 anos e de 6% do PIB em 35 anos."
Não há meio-termo nessa matéria. Ou o ministro enlouqueceu e está divulgando números birutas, o que não parece ser o caso. Ou os parlamentares devem levar a mão à consciência, pensar nos filhos e netos e fazer alguma coisa.

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