São Paulo, segunda-feira, 7 de agosto de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Japão ataca teste nuclear, 50 anos após Hiroshima

MÁRIO MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A HIROSHIMA

O primeiro-ministro do Japão, Tomiichi Murayama, condenou ontem China e França pela realização de testes nucleares.
As declarações foram feitas em Hiroshima, durante cerimônia pelos 50 anos da bomba atômica que caiu sobre a cidade no sudoeste do país. Participaram 60 mil pessoas.
``O recente teste nuclear realizado pela China e a decisão da França de realizar testes são extremamente lamentáveis", afirmou Murayama. ``Nós pedimos fortemente para eles cessarem com os testes."
O prefeito de Hiroshima, Takashi Hiraoka, defendeu a criação de uma zona livre nuclear na Ásia e no Pacífico.
Nos oito discursos da solenidade, só uma vez os Estados Unidos foram citados, numa referência de Murayama ao fim da Guerra Fria e às negociações entre norte-americanos e russos sobre os arsenais nucleares dos dois países.
A bomba atômica foi jogada sobre Hiroshima pelos EUA no dia 6 de agosto de 1945, matando entre 120 mil e 140 mil pessoas.
O representante da Organização das Nações Unidas (ONU) na cerimônia, o embaixador norte-americano Joseph Verner Reed, quebrou o protocolo e referiu-se à sua condição de americano.
Antes de ler mensagem do secretário-geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali, Verner Reed falou em nome pessoal.
``Para mim, como servidor internacional na ONU e como americano, hoje é um dia muito emocionante e significativo", afirmou.
O representante da ONU disse que ``a bomba introduziu uma nova era de terror, a era atômica."
A Prefeitura de Hiroshima não soube dizer se foi a primeira vez que um americano discursou na solenidade anual alusiva à bomba.
O prefeito Hiraoka tocou num assunto delicado da história japonesa. ``Nós queremos pedir desculpas pelo sofrimento que a dominação colonial japonesa e a guerra infligiram em tantas pessoas."
Hiroshima foi palco de várias manifestações antinucleares durante o fim-de-semana.
Organizações não-governamentais de 27 países realizaram conferência cuja principal resolução foi a condenação dos testes nucleares que a França fará no sul do Pacífico. Houve manifestação também na França e na Austrália.
O governo de Hiroshima divulgou ontem a estatística anual sobre sobreviventes da bomba.
Na quarta-feira, uma solenidade na cidade japonesa de Nagasaki vai marcar os 50 anos do bomba que explodiu sobre a cidade.
Foi a segunda e última bomba atômica jogada sobre o Japão, no fim da Segunda Guerra.

Texto Anterior: Capturado líder do cartel de Cali
Próximo Texto: Cerimônia leva 60 mil ao Parque da Paz
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.