São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 1995
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Bancos têm 150 mil caloteiros

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

O perfil dos clientes de bancos que não têm conseguido pagar suas contas é o seguinte: salário mensal de R$ 1.000 e dívida atrasada de R$ 4.000.
Esses dados foram divulgados ontem por Cláudio Torres, diretor da Área de Crédito da Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban).
Segundo Torres, há entre 100 mil e 150 mil pessoas físicas com dívidas em atraso junto a bancos privados. Essa situação é a pior que o setor enfrenta desde o Plano Cruzado (1986).
O valor total das dívidas em atraso que os bancos têm para receber está entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões, incluindo pessoas físicas e jurídicas -o Eurotúnel, construído sob o canal da Mancha (entre França e Inglaterra), custou cerca de R$ 11,5 bilhões.
A Febraban realizou ontem em São Paulo o seu 3º Congresso de Nacional de Crédito. A inadimplência no sistema bancário e as restrições ao crédito foram os principais assuntos.
Os inadimplentes atuais estão renegociando suas dívidas, mas enfrentam dificuldades para regularizar sua situação.
As regras atuais permitem que um devedor renegocie sua dívida com o banco para qualquer prazo. O que poderia ser um incentivo para prazos mais extensos -diluindo o valor devido ao longo de um ou dois anos- acaba funcionado como um obstáculo.
É que enquanto não salda seu débito renegociado, o cliente fica proibido de contrair novos empréstimos. A proibição é do governo.
Por exemplo, um inadimplente que renegocie sua dívida de R$ 4.000 em 12 prestações terá de esperar todo esse período para ter crédito novamente no banco. Não poderá, entre outras coisas, usar seu cheque especial.
``Como se não bastasse, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para operações de crédito a pessoas físicas é de 18% ao ano", reclama Maurício Schulman, presidente da Febraban.
Uma pessoa que renegocia uma dívida atrasada de R$ 1.000 terá, de início, o valor de seu débito corrigido para R$ 1.180 por causa do IOF. Esse valor é que será dividido em parcelas mensais, acrescidas ainda dos juros de mercado.
Maurício Schulman fez um discurso duro contra as restrições que o governo tem feito ao crédito. ``A dose de restrições não pode (...) comprometer a capacidade de pagamento de tomadores tradicionalmente pontuais em suas obrigações", disse o banqueiro.
Segundo Schulman, os bancos têm R$ 50 bilhões depositados compulsoriamente no Banco Central. Para cada operação que fazem, as instituições têm de enviar parte do dinheiro para o BC.
``Para cada R$ 100 que damos de empréstimo, temos que captar R$ 157,1", afirmou o presidente da Febraban.
A soma dos impostos que incidem sobre os empréstimos mais o depósito compulsório no BC recebeu dos banqueiros o nome de cunha fiscal.
``O ministro da Fazenda, Pedro Malan, externou na semana passada a intenção do governo de reduzir os compulsórios", disse Schulman ontem pela manhã.
O banqueiro fez uma advertência aos jornalistas: ``Mas estou dizendo isso agora cedo e tem uma reunião do Banco Central hoje. Cuidado com o que escrever, pois as notícias da tarde podem mudar a conjuntura sobre a cunha fiscal."
A reunião do BC (leia texto à pág. 2-3) não reduziu os percentuais de compulsórios nem dos impostos cobrados sobre os empréstimos bancários.

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