São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 1995
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Sapateiro hype tem medo de ser moderno demais

EVA JOORY
DA REPORTAGEM LOCAL

Patrick Cox, o designer de sapatos que virou cult no mundo todo chegou ao Brasil anteontem, a convite da Grendene, fabricante das sandálias Melissa.
O objetivo é uma parceria com a marca na fabricação de sandálias de plástico, com design exclusivo de Cox. Ele também pretende comercializar sua marca (que chega a vender cerca de 350 mil pares por ano) no Brasil através de um representante ainda não definido, a partir de setembro.
Patrick Cox, 32, nasceu no Canadá de pais ingleses e se mudou para Londres em 1983 para estudar numa escola especializada em criação de sapatos.
A admiração pela estilista inglesa Vivienne Westwood e a explosão pop foram os motivos que levaram Cox a Londres. Seis meses depois foi convidado pela própria estilista a criar os sapatos da coleção. Hoje tem filiais próprias em Londres, Paris e Nova York, além de representantes em todo o mundo -do Japão à Arábia Saudita, passando pela Indonésia.
Foi em Nova York que o estilista lançou este ano a sua primeira linha de roupas unissex. Copiado no mundo inteiro, Cox não parece preocupado. Em entrevista à Folha, Cox disse que se orgulhar do fato: ``Sei que sou copiado no mundo todo, mas não me incomodo. É sinal de que estou no caminho certo. Pior seria se ninguém notasse meu trabalho." E dispara: ``Há o perigo de eu me tornar moderno demais".

Folha - Você sabe que seus sapatos são copiados aqui?
Patrick Cox - As cópias estão em todos os lugares. É normal. Seria mais deprimente se não me estivessem copiando. A moda funciona assim. Poucos estão no topo, criando e dando idéias e os outros copiam.
Folha - Como você explica o fenômeno dos sapatos Wannabe?
Cox - É uma combinação de fatores. A moda inglesa tem o dom de virar cult. São roupas mais próximas à realidade, mais jovens e principalmente mais pessoais. É uma moda que está em sintonia com o que está acontecendo hoje, tudo está virando unissex. Também o fato de o mocassim ser muito confortável, é o que as pessoas buscam hoje. Por fim, hoje até as lojas mais conservadoras têm que comprar meus sapatos porque há uma demanda muito grande.
Folha - A moda jovem e de rua é muito forte em Londres. Você mesmo começou a ter fãs que vinham da cena club.
Cox - Há muita experimentação na Inglaterra. Todo mundo quer criar um visual próprio. Em outras cidades as pessoas se vestem bem, mas são todas iguais, e isso é tão chato. É mais positivo ver uma pessoa mal-vestida. Me inspiro mais pelo erro, do que por alguém que está chique o dia inteiro.
Folha - Mas você conseguiu que pessoas de todas as idades comprassem seus mocassins, não só um par, mas sete, dez pares. Acha que sua marca virou cult?
Cox - Acho que com relação aos Wannabes, sim. Todo o estilista quer ser lembrado por algo que fez. Conheço gente que possui 30 pares. Gosto do fato de que várias pessoas gostem de ter meus mocassins. Tem filhas que compram com as mães, senhoras de idade. O fato de ser inglês me dá mais credibilidade. Todo mundo quer fazer parte da juventude hip de Londres.
Folha - Por que são chamados de ``wannabes" (expressão que significa `quero ser')?
Cox - No começo era para ter uma linha mais barata. É um nome que não é pretensioso, bem anos 90, onde tudo é uma aspiração, onde todos querem ser alguém.
Folha - Você começou a vender roupas este ano. Que tipo de roupa você faz e porque abrir lojas em ruas mais conservadoras, onde há pouca concentração de jovens?
Cox - Minhas roupas não vão sair de moda no ano que vem. São roupas básicas, com preços acessíveis e materiais sintéticos. Não pretendo mudar o rumo da moda com minha moda. Não sou Galliano, sou bem mais prático e comercial. Há também o perigo de me tornar muito moderno. Meus clientes não são só jovens.
Folha - Como você vê a invasão dos sintéticos na moda?
Cox - O plástico é que há de mais moderno atualmente. Todo fim de década, as pessoas tentam ficar modernas. A moda muda com tanta rapidez nos últimos dez anos que além de tecidos novos, não há nada de novo que alguém possa fazer. Uso muito sintético. É o único jeito de dar uma cara nova aos produtos na moda. A única novidade é a tecnologia.

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