São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 1995
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Para autor, brasileiro é bizarro como Savannah

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

John Berendt diz que a experiência de escrever seu primeiro livro foi ``muito prazerosa", mas que ainda não encontrou ``a história certa" para o segundo. ``Estive em Veneza recentemente e achei que a cidade renderia uma boa história, mas ainda não decidi."
Leia a seguir a continuação da entrevista:
(FS)

Folha - Em que sentido a alteração do tempo era uma melhor maneira de contar a história?
John Berendt - Queria que o leitor descobrisse Savannah antes de acontecer o assassinato, que ficasse surpreso com o crime assim como os habitantes da cidade ficaram. Além disso, acho Savannah uma cidade maravilhosa, sedutora, pequena e calma. Queria que o leitor se apaixonasse por ela como eu me apaixonei. Além disso, você precisa primeiro conhecer Jim Williams e só depois saber que ele matou alguém. Até para tirar as conclusões, é preciso saber que ele é esperto, esnobe, engraçado etc.
Folha - Na primeira parte do livro, você faz uma galeria de personagens. A maioria deles finge que não sabe o que sabe para viver em harmonia com uma determinada situação. Esta é a essência dos habitantes de Savannah?
Berendt - Acho que há um forte sentido de fantasia que se sente o tempo todo em Savannah. Há uma grande ironia nisso tudo, também. Por exemplo, em Joe Odom, quando ele diz que vai ser o herói do meu livro, já que os outros são uma drag queen, um assassino etc. Ele vira o bom-moço.
Isso de as pessoas fingirem que não sabem o que sabem é parte de uma relação irônica com a vida. Chablis, a drag queen, é irônica, e também Joe Odom, que deve para todo mundo, mas continua a ser amável com todos, e finge não perceber que estão furiosos com ele. Há uma fuga da realidade, um sentimento estranho, irreal, fantástico e irônico em Savannah, que não se vê em outros lugares.
Folha - Você acha que para os leitores brasileiros Savannah pode soar ainda mais bizarra do que para os americanos?
Berendt - Minha impressão é de que os brasileiros vão gostar, porque estão acostumados com comportamentos bizarros, não é? Acho que vão gostar do livro justamente pelo que tem de bizarro. Há mais comportamentos selvagens e excêntricos no Brasil do que nos EUA. Os americanos são mais conservadores e acham meus personagens muito excêntricos.
Folha - No fim do livro, a personagem Minerva diz que o que Jim Williams afirmou nos tribunais não era a verdade. Você não acredita na inocência dele?
Berendt - É, concordo com Minerva, mas não afirmo isso. Pondo o comentário dela onde pus quis dar a entender que acredito nela. Acho que Danny não estava armado na hora do crime, mas também não acho que Jim tenha planejado matá-lo, creio que tudo aconteceu ``no calor da hora". Mas não quis ser mais direto sobre isso. Não queria que o livro fosse um ``desvendar do crime". Queria um retrato dos habitantes da cidade.
Folha - Seu livro agora vai virar filme. Você está trabalhando no roteiro?
Berendt - Não, eles me pediram para fazer, mas eu não quis. Passei sete anos escrevendo o livro e não sei nada sobre filmes. Sabia que mesmo que escrevesse o roteiro não teria controle sobre o filme. Encontraram uma pessoa para escrever o roteiro e fiquei muito bem impressionado. Acho que fez um bom trabalho, manteve o espírito do livro -vai ficar bom.
Folha - Os atores do filme já foram escolhidos?
Berendt - Não. O roteiro deve ficar pronto em setembro ou outubro e só depois vão fazer isso. Mas Diana Ross já disse que ela gostaria de fazer Lady Chablis.

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